31 de março de 2022

VESTIGIOS

 Nei Duclós 


As realidades que  vivi em momentos  concretos

Parecem hoje fantasia

Custo a acreditar no que passou 

Neste presente  bizarro

Em que a prosa afasta a poesia


Não transporto a  carga de amor

Daqueles dias

Sou um Quixote que  voltou para  casa

E deixou pistas

Os livros que mal ou bem

Mantem viva

A memoria ao redor do fogo 

Doce ferida



27 de março de 2022

MOSTRAR

 Nei Duclós 


Exponho cicatrizes, não por gosto

Para atrair atenção, me fazer  de  bobo

Ser o que não sou, um saltimbanco

Cromediante da dor, sujeito estranho


Exponho cicatrizes, Deus está vendo

Para repor a verdade onde me encontro

Assim saberás de mim, doce viajante

Que me queres ao vivo e não sabes onde

Está teu amigo De corpo presente


Conhecendo as fdridas seremos humanos

E não iludidos em máscaras de pano

Lúcidos como as manhãs de outono

Que mostram os moços e os veteranos

A viver  com graça as agruras do tempo


25 de março de 2022

PERIGOS

 Nei Duclós 


Em qualquer situação eu poderia ter partido

Quando cortei o braço na janela de  vdro

Ou quebrei o pulso e bati o queixo

Ou mesmo na madrugada correndo perigo

Na inundação de tantos dilúvios

No elevador que perdeu o ritmo

Em acampamentos entre desconhecidos

Nos assaltos em casa ou na rua

Ou nas inúmeras cirurgias


Mas em toda ocasião contei com Deus menino

Com a proteção da Mãe Santíssima

E com o arrimo da família

Que me deixaram tranquilo 

Enquanto a guerra corria solta pelas esquinas

E os insultos dominavam os espiritos



OUTONO

 Nei Duclós 


Outono  chega, mesmo que o verão,  irmão  mais moço 

Espiche a estação do sufoco 

E torne tardio o clima doce

O frio  que nos liberta do calorão em pele e osso


Outono é  o  coração do ano

Sua pulsação, seu abandono

Encontro que vira adeus

Janela de trem em cais do porto 


É  quando vens, no colo do sonho

Braço de mim, saída de banho

A dormir  comigo, depois do tombo

Da fruta que  cai ao desistir da planta que a sustenta

E se aninha em fogo brando 



21 de março de 2022

APRENDER

   Nei Duclós 


Tudo destruí com minha pata de ganso

Fiz desistir quem tentou se aproximar

Não  usufrui da sorte do destino

Sem noção cruzei o tempo distraído 


Hoje peço perdão, mísero sobrevivente

Dou o braço a  torcer, fruto do remorso

Cercado pelo amor de quem chegou para sempre

E com  a poesia me ensinou a ver

O que não atinei e estava  demasiado perto


 

7 de março de 2022

VIAJEI POR MAR

 Nei Duclós 


Viajei por mar

Para aportar no meu destino 

Lotou  o cais

Quando  cheguei no terra a vista


Trouxe presentes 

Para costurar  . no teu vestido

Pingentes de artesão  cherokee  

Estampas em tecidos andinos


Viajei porque quis

Amedrontar teu delírio

Achei  que podia

Cruzar meus limites

Mas eu nada tinha 

Fora do teu sonho,

Bússola feminina


O amor

Me esperava no fim da linha


Nei Duclós

5 de março de 2022

ENXAME

 Nei Duclós 


Como inseto que vem beber água nos teus olhos

E escolhe o momento certo

Para atrapalhar teus gestos

E te acorda no melhor do sono


Assim me tens assidua e inconveniente

A sugar meu tempo com impaciência


Não fosse o amor com seu expediente

De insistente presença ao redor

Tudo seria um enxame sem sentido


O sentimento depura  com a  doçura 

O voo  suicida dos amantes



4 de março de 2022

Cria⁶9tura

Nei Duclós 


Homem tem  a ver com a Terra

Pedras espinhos deserto montanha 

Foi criado bruto

Para viver entre feras 


Já a mulher é  fruto das estrelas

Quando as vemos de longe

E desenhamos esferas em fogo

Mulher é  húmus lava borrasca

Emissaria de sangue seiva nuvem


Homem é  a guerra

Mulher Helena de Troia

Erupção do Vesúvio 

Pomo das Hesperides 


Podemos chama-la criatura

Amor entre armas