Tenho visto alguns filmes reveladores sobre a capacidade de a cultura americana transformar seus preconceitos em algo cult, agradável de se ver. Tanto é que há muito sucesso em torno disso, sem que se perceba até onde vai a sacanagem. Vamos pegar, por exemplo, o nojento Ratatouille, o desenho da Disney que é uma das formas de retaliação imperial contra a omissão dos franceses na Guerra do Iraque. Sobre o que é o filme? Sobre um anão negro que tenta roubar um restaurante famoso depois da morte do chef que o inaugurou. Os lábios grossos, a cara facinorosa negróide, a pele escura carregam de vilania o personagem.
Contra ele existe a porcariada transformada em heroísmo, ou seja, ratos mesmo, daqueles peludos, que provam ao distinto público que esse negócio de culinária francesa até um roedor pode desempenhar. Assim, os ratos se reúnem para fazer um jantar inesquecível para o crítico asqueroso, uma criatura que, segundo a visão devassa do filme, deve ser execrada, já que emite opiniões, é um jornalista que vive do seu ofício. Não há monstrengo pior do que o jornalista, enquanto o ratinho nojento é transformado na coisa mais fofa do mundo. O desfecho consolida a sacanagem: o pseudo chef, que usou o rato como especialista em culinária, abre um bistrô com o dinheiro do jornalista (este, caiu em desgraça depois de elogiar o restaurante ratatuiado). É de vomitar.
Outro troço, que está chegando às locadoras, O Invisível, é a clonagem de um filme sueco de 2002. É assim mesmo: quando um filme estrangeiro tem chances de faturar, de fazer sucesso, no mercado dominado pelo Império, os cineastas clonadores vão lá e fazem uma versão para que a grana continue nas mesmas mãos de sempre. Sobre o que é “O Invisível”? É sobre uma delinqüente étnica (a atriz russa e morena Margarita Levieva) que tenta eliminar um rapaz branco brilhante nos estudos, mas acaba fazendo de tudo para trazê-lo de volta à vida. Para que isso aconteça, ela paga seus pecados por ser tão etnicamente culpada e morre nos braços do herói caucasiano que sobrevive. É fofo demais.
Os cineastas em série dos Estados Unidos estão trabalhando para a cultura de massa dominada pelo Império continuar padronizando tudo a favor do racismo, da violência, da invasão de todos os países. Imagine quando não houver mais países, cantava John Lennon no seu belo hit, que agora na época do Natal é repetido até a insânia. Pois sua profecia se concretizou. Não existem mais países, apenas os Estados Unidos. Também não há mais religiões, apenas o fundamentalismo. Religião fundada numa sólida teologia, como a Igreja Católica, está em desuso, execrada como coisa obsoleta.
Enquanto os católicos insistirem na dança feérica de coisas como Padre Marcelo ou missas gritadas e fanáticas como as do movimento carismático, quanto mais se afastarem de São Tomás de Aquino e da leitura erudita do Evangelho, mais ficarão parecidos com os crentes que abundam por aí. Um templo aqui da minha região ostenta a faixa “Igreja católica”. Em vez de diferenciar, simplesmente confunde. Como se o catolicismo, fundado por São Pedro e São Paulo, tivesse que baixar ao nível do pastoreio picareta que tomou conta do neo-protestantismo. Ontem, no Jornal Nacional, um casal brasileiro denuncia o pastor de uma igrejeca dessas, que o tungou num negócio imobiliário. Os dois, motorista e faxineira, acreditaram no sujeito. Claro, levaram sua poupança, duramente amealhada em doze anos trabalhando nos EUA. Detalhe: o pastor é brasileiro.
É profundo o veneno inoculado no mundo. Por isso explodimos por toda parte em violência. Foi-se o cinema humanista, baseado em grandes autores, não só nos seus livros, como nos seus roteiros. John Fante, William Faulkner, Bertold Brecht, Scot Fitzgerald: é grande a galeria de gênios que trabalharam diretamente com Hollywood. Tudo bem, cheios de conflitos, mas vai ver o que eles produziram. Enquanto isso, amargamos a mais terrível da idade das trevas, o obscurantismo fantasiado de sistema politicamente correto. Trata-se de uma ratoeira.
RETORNO - Imagem de hoje: o vilão (no centro, de frente, entre o rato e o outro chef de perfil) é a representação étnica do Mal.
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