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29 de dezembro de 2006
MATOU O PAÍS E FOI AO CINEMA
Dois tipos de quadrilhas disputam o rentável lixo do Brasil, o povo marginalizado pelo Estado, que abriu mão de suas responsabilidades. Um tipo é o tráfico milionário de drogas, que tem como cliente principal a população que ainda está na classe média para cima. O outro é a chamada milícia, que descobriu, com as privatizações, o filão de ouro que é um povo trabalhador que precisa pagar para sobreviver. Ambos são fruto da ditadura instaurada em 1964, preparada pela direita interna e externa, que teve primeiro um perfil militar , e que assumiu a caratonha civil a partir de 1985.
Éramos um povo ordeiro e pacífico, pelo menos de 1937 a 1964. Foi difícil pacificar o Brasil, obra do presidente maior, Getúlio Vargas. A revolução de 30 foi exigência popular e a Era Vargas instaurou a distribuição de renda via leis trabalhistas, o nacionalismo na economia, a multiplicação do emprego impulsionado por políticas públicas, salários compatíveis com os dos países ricos, extinção da dívida externa etc. A partir da destituição do presidente trabalhista João Goulart pela força das armas e da propaganda mentirosa (que assumiu o poder), a corrupção instalou-se definitivamente na máquina do Estado e de lá não sairá, a não ser que a nação tome providências. Costuma-se chamar as Forças Armadas. O buraco agora é mais embaixo. É preciso chamar o cidadão adormecido e em pânico para a dura missão de reconstruir o país.
Mas a notícia mais importante do dia não é o horror dos assassinatos em massa, em que entram mulheres e crianças, além dos idosos queimados em ônibus. O que é importante mesmo é que o presidente Lula ficou muito preocupado e seguiu o noticiário. Isso eu, que sou cidadão comum, faço. Fico preocupado e sintonizo o noticiário. Um estadista vai lá, com a força total do estado e acaba com o puteiro. Precisa ter coragem, espírito público, liderança. Mas sabemos que Lula marcou, para depois de sua posse, dez dias de férias. Merecidas. Matou o país e foi ao cinema.
Esbagaçaram o patrimônio nacional, suas estatais, seu povo, seus recursos, suas florestas. Deixaram os americanos invadir, os chineses invadir, todo mundo invadir. Quando os holandeses invadiram, o povo em armas lutou décadas para mandá-los de volta aos países baixos. Quando os franceses resolveram fazer no Rio a França Antártica, levaram chumbo grosso na cara. Quando os hispânicos invadiram nossas fronteiras para anexar territórtio, foram escorraçados pelas nascentes forças armadas do Brasil soberano. As gerações anteriores deram conta do recado. Não deixaram invadir e nos presentearam com a jóia da terra: o torrão nacional, deitado no berço esplêndido de sua soberania. Agora estamos numa cama de pregos. Tem gente que gosta.
RETORNO - Imagem de hoje: Guerra contra os holandeses, o nascimento de um povo em armas.
EXTRA - Nem tudo está perdido. Recebo e-mail de Mario Chamie, poeta maior:
"Nei, meu querido poeta e amigo,
Só hoje me deparei com o seu texto "Dois Poetas". É limpo, límpido, sereno,justo e de bela finura perceptiva. Esse seu texto é o meu raro e inesperado presente de Boas Festas, às portas já abertas de 2007.
Que, neste Ano Novo, saúde, alegria e felicidade sejam as nossas bênçãos
divinas!
Abraço."
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