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2 de dezembro de 2006
A LINGUAGEM QUE A NATUREZA ENSINA
Minha experiência como cronista semanal do espaço Literário, do Comunique-se, tem me proporcionado gratificantes surpresas. Fiz novos amigos, somando aos que já tinha, como Urariano Mota. Descobri André Falavigna e sua verve insuperável, um texto pra lá de brilhante, arrasador e com o qual me identifico muito. Também fiz amizade com Luis Giron, jornalista cultural e escritor de primeira linha, além do mestre Deonísio da Silva e suas crônicas maravilhosas sobre a linguagem. E temos o editor do Literário, Pedro Pedro J. Bondaczuk, poeta, jornalista, radialista e escritor, um autor que nos comove com seu talento e sinceridade.
EUCLIDES - Graças ao Pedro, que a todas solicitações atende com presteza, tive recentemente, o prazer de conhecer, via e-mail Euclides Farias, que é escritor magnífico, além de jornalista, com 48 anos de idade e 25 de profissão, exercida em O Liberal, A Província do Pará, Agência Nacional dos Diários Associados e Rádio Cultura. Atuou, como freelancer, na Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde. É Euclides que nos fala de um maravilhoso projeto na Amazônia, que é a sua (nossa) terra.
Diz Euclides, ao comentar meu texto A volta da fábula, sobre poesia e inteligência dos animais, que publiquei no Literário: "Uma pesquisa iniciada na década de 70 na Amazônia pelo compositor, pesquisador e ritmista Albery Albuquerque sustenta que a música, os ritmos e a linguagem da região vêm do grito dos animais, do canto dos pássaros e do ruído das florestas e rios. Visionário, acredita ser possível criar uma música genuinamente amazônica a partir de revolucionária orquestra, com instrumentos que seriam criados por lutieres. Assim, nasceriam o uirapuru, a onça etc. Albery gravou os sons, construiu as escalas musicais, mas, sem dinheiro ou apoio para a orquestra, faz concertos ao violão com a técnica descoberta. Uma pena."
"Acho que o projeto revolucionaria a música, continua Euclides, não no sentido de deitar moda, mas de inaugurar novo padrão rítmico. Não sei se concordas, mas a última revolução musical no Brasil foi a bossa nova, com aquela alteração radical na batida do violão. Tem quem ache que foi a Tropicália. Ainda sobre a música amazônica, o pesquisador diz que, de certo forma, o canto dos Kaiapós reflete os diferentes timbres dos animais, como a onça, em seus momentos de alegria, tristeza, bravura e solidão".
AMAZÔNIA - Hoje, Euclides me envia texto do jornal Amazônia Hoje, sobre esse projeto: "A música de Albery Albuquerque está correndo o mundo. Estações de rádios européias executam canções assinadas por ele e emissoras de televisão de países do Pacífico Sul fazem o mesmo. Ao vivo, ele vai apresentar suas composições, na linguagem dos animais, nas cidades francesas de Toulouse, Poitiers e Sedan. Os shows ocorrerão neste final de 2006 e início de 2007. Antes, porém, ele mostra parte dessa apresentação para o público que for hoje, às 20h, ao cine-teatro do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos (Ccbeu). Os ingressos custam R$ 10."
"Uirapuruzinho é uma das canções que pode ser apreciada nesta noite. Usando a sonoridade do uirapuru-verdadeiro, conhecido pássaro do Brasil que emite um canto melodioso e musical ao amanhecer, Albery interpretou a sua composição. 'Utilizei a voz do uirapuru-verdadeiro como instrumento. Compus emocionalmente o canto dele sem deturpar a linguagem dele. Escrevi a partitura e transportei-a para o computador, onde usei a voz do uirapuru-verdadeiro para interpretar a minha composição, na linguagem dele', conta. Assim, Albery faz com todas as suas composições musicais, num trabalho inédito, que vem sendo gravado em CDs desde 2000."
"Em decorrência dessa originalidade, o inglês Peter Marner, um dos maiores estudiosos de Ornitologia (estudo da Zoologia que trata das aves) do mundo, publicou parte da pesquisa de Albery no livro Nature's Music - A ciência do som dos pássaros, em 2004. Anexo a essa publicação (n.b.: do jornal, no link), distribuída a instituições de pesquisa de países do mundo inteiro, estão dois CDs e, na primeira faixa de cada um deles, duas composições de Albery Albuquerque, Uirapuruzinho e Multigenérico expansivo repetitivo."
"No show de hoje à noite, continua o jornal, a música Multigenérico expansivo repetitivo está presente também. Segundo Albery Albuquerque, essa composição foi feita com o som do sabiá de Belém, do rouxinol do Rio Negro, e do bacurau. Além dessas duas, há as músicas Tucano, Jogo dos sabiás, Canto de semente, Ritmo da floresta e Trancelim de tucanos. No palco, Albery utilizará violão elétrico, acompanhado do baixista Márcio Melo, do percussionista Carlos Brito e do guitarrista Tom Salazar. O músico Thiago Albuquerque, filho de Albery, vai apresentar os samples das vozes dos animais nas músicas, através do computador. O computador vai servir de teclado musical, acrescenta o pai."
PESQUISA - "O músico-pesquisador Albery Albuquerque está com 50 anos de idade, atualmente, e com músicas sendo executadas por emissoras de rádio da Cidade do Vaticano, há cerca de dois meses; em rádios culturais da Áustria, desde o ano passado; e há dois anos, pela BBC de Londres. E, através da televisão francesa Réseau France-Outre-Mer (RFO), suas composições chegaram até os países do Pacífico Sul. Na Escola Superior de Música de Caiena, departamento francês na América do Sul, os alunos estudam as músicas dele".
RETORNO - 1. Disse para o escritor que é preciso dar uma chance à qualidade na música, na literatura, em todas as áreas, no Brasil tão invadido. E que concordo com o que ele diz sobre a bossa nova, nossa paixão eterna. 2. Imagem de hoje: índios Kaiapós, foto disponível neste site. 3. Neste domingo, o Diário Catarinense publica minha crônica mensal no caderno Donna DC, "Os materiais dos sonhos".
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