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5 de dezembro de 2006
ESTÃO TIRANDO O COURO
O problema não são os medicamentos que os motoristas tomam para ficar acordados, mas sim as condições escravas de trabalho. A mídia foca a culpa na vítima e deixa livre quem explora a mão-de-obra abundante no Brasil. Repórter que chegou de uma estadia de um ano nos Estados Unidos me confidencia que, em São Paulo, teve editora que ofereceu 14 reais a lauda para uma reportagem. Ou seja, em 20 mil caracteres, que é um assombro de tamanho, mais de 15 laudas, você consegue uns 200 pilas, o que nem dá para pagar as ligações. Mesmo com a Justiça do Trabalho funcionando e pelo que me dizem, muitas vezes de modo satisfatório, o fato é que o desplante tomou conta e a ordem é arrancar o couro dos brasileiros, à mercê de súcias de nababos estatais, que furam os tetos salariais com fortunas todo mês. Por muito menos se fez a revolução de 30, que não por acaso foi desconstruída pela historiografia oficialesca, que sob o manto do politicamente correto enterrou uma experiência política que propôs e implantou um sistema que buscava o equilíbrio social.
EMPREGO - Está quase impossível conseguir emprego decente. Milhões de pessoas se atiram nas ruas para vender qualquer coisa. Antes eram os miseráveis que ficavam nos postos do nosso capitalismo de farol. Hoje são as classes médias. A repressão baixa sobre os ambulantes, mas qual o jeito de levar algum para casa no final do dia a não ser vendendo alguma porcaria chinesa para os que passam? Acabaram com a indústria, os empregos e colocaram tudo na mão do terceiro mundo asiático, que leva os craques do Figueirense, aqui de Floripa, e de outros times. Os mais cobiçados vão para a Europa. Enquanto isso, aumenta o crime. Ontem, bem no centro da capital catarinenses, os caras assaltaram o Besc, o banco estadual, depois foram a pé até o Banco do Brasil, que fica a 150 metros e também levaram dinheiro dos caixas. Estavam com reféns e a polícia disse que não podia fazer nada. O povo gritava para os policiais atirarem, em vão. Está todo mundo desarmado e vai ficar ainda mais. É proibido ter arma no Brasil, a não ser a bandidagem e os policiais. Fica uma moleza pegar a grana dos cidadãos. Não tem policial suficiente para o descalabro.
BIRRAS - Mas o grande assunto é o novo ministério. As negociatas, as concessões, as ameaças, as birras. E tem as tais reformas. Nada pode ser reformado com um sistema desses, em que os tubarões tomam conta. Tudo é feito para cair no colo deles. Não temos opinião pública, espírito público, homens públicos. Temos uma grande privada. Lembro um documentário sobre o quarto centenário de São Paulo, que vi há tempos. Filmaram o povo. Todo bem vestido, nutrido, pacífico. Os caras usavam ternos, as mulheres vestidos caprichados. Era povão mesmo, pessoas pobres, mas havia mais equilíbrio social. Não era o paraíso, as contradições sempre existiram no Brasil. Mas a época dava de dez na nossa. Hélcio Toth foi numa exposição em que aparece São Paulo muito antiga. Lá fotografou gente de agora no ambiente do passado. O resultado é impressionante (imagem desta edição). Como um cara como o Hélcio Toth, que é sem dúvida um dos grandes fotógrafos do nosso tempo, precisa se incomodar para pedir emprego nos jornais? Deveria estar sendo caçado pelas propostas se houvesse mídia correta.
RETORNO - O escritor amazônico/brasileiro Euclides Farias diz que agora é leitor assíduo do Diário da Fonte. Vou ter que caprichar!
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