Nei Duclós
(Para meu mestre Mino Carta, neste momento de dor)
Para que a longevidade quando um filho morre?
Durar não tem propósito nem sentido
É como vagam sem a gravidade
Corpos vazios avessos ao ruído
Porque o luto de um filho é o silêncio
Mesmo que na aparência solte gritos
É o reino da sombra onde sentamos
Na margem sinistra de Caronte
E vemos o filho, que a morte nos deserda
Deslizando na madeira e no granito
Não faremos drama, conforme o prometido
Pois nenhuma dramaturgia nos garante
Restamos, sobrevivos, a remoer remorso
Pais que jamais contavam com a fortuna
Tirando a máscara da sorte
E revelando os olhos da Medusa
O silêncio é também de quem nos acompanha
Não há consolo, o choro não adianta
E nem a arte, a qual nos dedicamos
A palavra apodrece na cama da memoria
Não há grandeza quando o futuro nobre
Em pranto profundo enterramos
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