5 de novembro de 2018

A VOLTA


Nei Duclós


Entendo que agora não me reconheças
Desapareci por muito tempo
Por obra de misteriosos eventos

Desisti de te convencer da minha experiência
Da qual não me lembro, nem por hipnose
E hoje meu nome transformado em lenda
Não pode ser manchado por qualquer notícia

Vou sumir de novo, desta vez para sempre
Pois se há dor na ausência
Ela é maior quando somos jogados de volta
Sem merecimento

Mudou minha aparência, mas mantenho intacta
A identidade doada pelo berço
Minha mãe saberia, mas ela não pode mais ser consultada

De todas as marcas desta enrascada
Que nem o teste de DNA resolve
Fica apenas a íntima alegria
De poder voltar à vida

Sou um náufrago que à revelia
Foi tragado numa curva do incógnito universo
Por motivos ignotos, num momento sem registro
E agora pede socorro à Lua
Que me acompanha, por ter o mesmo destino



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