28 de agosto de 2017

PALAVRA É PODER



Nei Duclós

Antigamente na Grécia, com Demóstenes, e em Roma, com Cícero, o poder era exercido a partir da oratória, que convocava as forças políticas e armadas. Vemos isso em Plutarco em suas biografias comparadas. No início o orador escrevia o que ia falar e isso gerava desconforto na plateia, que esperava ser inflamada pelo improviso ou a frase bem elaborada. Ou seja, enquanto era só escritor não tinha muito valor. Só quando proferia sua fala é que fazia a diferença.

Plutarco aponta as fraquezas dos grandes oradores, que fisicamente não estavam à altura da eloquência, mas que se superavam ao peitar e dobrar os inimigos, especialmente os que conjuravam contra o poder. Cícero debelou uma revolta, a de Catilina, que pretendia colocar fogo em Roma e para isso tinha convocado até pessoas para impedirem o acesso aos reservatórios de água. O grande orador venceu essa e outras artimanhas e foi carregado em triunfo depois de ir pessoalmente onde estavam os prisioneiros e levá-los ao cadafalso.

A mitologia do escritor se desvanesceu na época moderna, que por um tempo ainda dependeu dos grandes tribunos. Há um cansaço de poses com cigarro no canto da boca, rugas na testa en frente a teclados, rostos de pedra em esconderijos indevassáveis, charutos ao lado de tiranos, entre outros expedientes. Hoje não temos oradores, temos latidos, rosnados, gemidos e nheco nheco. Além da retórica rouca dos falsos líderes dito populares.Os escritores perderam a vez para formatar o discurso, como aconteceu tantas vezes na História do Brasil, como é o caso famoso de Lourival Fontes e Getúlio Vargas, que resultou na Carta Testamento.

Com a demolição da nacionalidade, é hora novamente dos escritores e os tribunos assumirem os discursos de reconstrução, roubados pelos oportunistas, enfrentando a difamação, a injúria, a pobreza mental, a mediocridade, os interesses, a mesmice dos jargões, a venda indiscriminada da alma coletiva. .

Chega de cacarejar. Hora das vogais abertas, dos grandes improvisos, da centelha do gênio na palavra restauradora de um poder que a nós pertence e que hoje jaz nas mãos dos trogloditas ágrafos.


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