Nei Duclós
Antigamente na Grécia, com Demóstenes, e em Roma, com
Cícero, o poder era exercido a partir da oratória, que convocava as forças
políticas e armadas. Vemos isso em Plutarco em suas biografias comparadas. No
início o orador escrevia o que ia falar e isso gerava desconforto na plateia,
que esperava ser inflamada pelo improviso ou a frase bem elaborada. Ou seja,
enquanto era só escritor não tinha muito valor. Só quando proferia sua fala é
que fazia a diferença.
Plutarco aponta as fraquezas dos grandes oradores, que
fisicamente não estavam à altura da eloquência, mas que se superavam ao peitar
e dobrar os inimigos, especialmente os que conjuravam contra o poder. Cícero
debelou uma revolta, a de Catilina, que pretendia colocar fogo em Roma e para
isso tinha convocado até pessoas para impedirem o acesso aos reservatórios de
água. O grande orador venceu essa e outras artimanhas e foi carregado em
triunfo depois de ir pessoalmente onde estavam os prisioneiros e levá-los ao
cadafalso.
A mitologia do escritor se desvanesceu na época moderna, que
por um tempo ainda dependeu dos grandes tribunos. Há um cansaço de poses com
cigarro no canto da boca, rugas na testa en frente a teclados, rostos de pedra
em esconderijos indevassáveis, charutos ao lado de tiranos, entre outros
expedientes. Hoje não temos oradores, temos latidos, rosnados, gemidos e nheco
nheco. Além da retórica rouca dos falsos líderes dito populares.Os escritores
perderam a vez para formatar o discurso, como aconteceu tantas vezes na
História do Brasil, como é o caso famoso de Lourival Fontes e Getúlio Vargas,
que resultou na Carta Testamento.
Com a demolição da nacionalidade, é hora novamente dos
escritores e os tribunos assumirem os discursos de reconstrução, roubados pelos
oportunistas, enfrentando a difamação, a injúria, a pobreza mental, a
mediocridade, os interesses, a mesmice dos jargões, a venda indiscriminada da
alma coletiva. .
Chega de cacarejar. Hora das vogais abertas, dos grandes
improvisos, da centelha do gênio na palavra restauradora de um poder que a nós
pertence e que hoje jaz nas mãos dos trogloditas ágrafos.
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