20 de novembro de 2014

VERÃO IMPOSSÍVEL



Nei Duclós

Estive perto de escorregar para o abismo. Mas estendeste a mão, flor frágil grudada em paredão de granito.

Fico em pânico quando não estás à vista, montanha que completa minha natureza de planície

Te perco só por engano. Estás sempre enganchada no linho desse verão impossível.

Só tu me tens pleno. Plenilúnio de dons, musa profunda.

Querida amiga não diz nada, é só disfarce. Calamos fundo exibindo caras de paisagem.

Quando vens em minha direção, escuto o ruído de teu andar no balanço do mar que a lua cultiva.

Açúcar pleno de ti ao aproximares teu rosto sobre minha saudade.
 
Tudo o que tenho é teu amor que me dedicas sem medo;

Nesse amor me banho, para sempre nuvem me acompanhas.

Voltou o tesouro de tua pele, teu sonho, teus olhos, que descubro te buscando.

Sou violento nos confins do encontro, quando nos desvestimos do suave desconforto e assumimos as ranhuras da nossa falta de fôlego.

Fica, poesia, para provar que ainda há vida.

Amor não se pega de volta é a fundo perdido e não sobra

Inútil te invocar, musa perdida
perdi o raio que tua luz fazia
quando Cupido afiava as flechas
uma após outra, na outra vida


PÁGINAS VIRADAS

 Somos páginas viradas pelo tempo, esse leitor distraído.

Everybody dies. Sorry spoiler.

O país que você está usando não é legítimo. Clique aqui para obter uma cópia original.

Superávit é quando o prejuízo se maquia.

Nada é confiável. Por isso estamos imóveis, para evitar a chuva de lâminas.

Não tenho nada para expor. Conferencista do vazio, preencho os minutos que me cabem contando os insetos que batem no vidro da janela.

Tudo é velho neste mundo em farrapos, disse o veteraníssimo de meia idade.
A palavra guarda a chave do que expressa em cada letra morta de sua charada, a memória.

Os objetos não se sujeitam.

 O Brasil foi demitido. Foi para a rua. Quer reintegração de posse.

Pise com cuidado no jogo da amarelinha. Navegue corretamente para não seres punido. No céu fincaram raízes, permaneça bem calado.

Não me responda em letras maiúsculas. O argumento continua minúsculo. A mi no me grite.

Era bom porque não nos conhecíamos. Podiamos nos imaginar. Agora que nos conhecemos ficou ruim.

Não existem mais ouvidos, mas portas. A sutileza foi-se para sempre. O humor comprou passagem só de ida.A cultura evaporou-se.Há a barbárie

 Tenho orgulho de ser marsupial, disse o canguru. Só não sei que importância tem isso.

Viramos stars nas redes sociais.
Humanos brincando de ser mais.
Sabendo que é de lei enxugar
as fantasias de reis e cavalgar
como sempre o trote dos aldeões.


RETORNO - Imagem deste edição: foto de Eliane Fogel.

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