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24 de março de 2012
URUGUAI
Nei Duclós
Aquele rio de nome estrangeiro
não nos pertence
Se é também nosso
é porque é só deles
Ficamos com a terra
mas perdemos o rio
Como cortar a água com a faca?
Como inscrever uma cerca
na correnteza?
Como contentar-se
com uma só margem?
Aquele rio, de nosso
tem apenas a paisagem
O rio mesmo, suas águas,
o barro no fundo,
os peixes e também
os fantasmas são de outro país
Aquele rio estrangeiro
entretanto é a minha pátria
Porque nele minha infância
molhou os pés sob os olhos
vigilantes da mãe
que não permitia a água chegar à cintura
Porque nele, adolescente,
pesquei piavas ligeiras
que assobiavam na superfície
Porque tornou-se meu com o tempo
deixou de ser estrangeiro?
Quando estou do outro lado da ponte
onde fica o rio que é meu?
Aquele rio permaneceu
com seus arroios onde imperou meu pai
que hoje me abraçam sem jamais revelar
a que nação de verdade pertenço
Talvez faça parte da pátria
comum da poesia
Mas um pescador precisa de peixes
não de poemas
precisa de anzóis,
não de canções
Estendo toda noite o espinhel
das minhas perguntas
naquele rio dividido
entre o país do meu pai
e a nação que inventei durante a vida
RETORNO - Imagem desta edição: foto de Anderson Petroceli.
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