26 de março de 2012

BELEZA


Nei Duclós

Por que você me tirou daquele ermo absoluto e me colocou aqui no centro do mundo? ela perguntou. A beleza precisa ser livre, disse ele.

Qual teu ofício? perguntaram. A palavra certa, quando o resto falta, disse o poeta.

Acene de volta, coração, quando meu verso adotar teu canto.

Consultei a caixa postal. Olhei todos os spams. Talvez um deles fosse teu recado.

Ponha um sapato e arranje um emprego, disseram. Estrelas precisam de um espanador de nuvens.

Precisei viajar. Deixei a ração de sonetos no quarto de despejo. Alimente os sonhos. Eles estão famintos.

Não vai levar poesia hoje? perguntou o garoto. Não, disse ela. Preciso comprar um par de brincos.

Viciei em você. O pior é a síndrome de abstinência.

Foi por te querer que te perdi. Agora me ache onde sou teu.

Não é o sol que brilha no teu ombro, é o meu desejo. Esse flash na pele sobre a areia.

O presente do passado: tudo se mantém intacto. A memória é apenas o espelho que distorce.

Passageiros do tempo, assombramos quem fomos. O garoto vê-se adulto e grita. O ancião olha-se menino e acena.

Se não te ocorre nada, me dá um beijo. Eu farei o mesmo.

Não brinde o excesso de poesia com bocejo. Guarde para o inverno.

Agora que o dia acabou vieste ver minha febre. Não sei como cruzei a tarde olhando o teto.

Não me troque por meia dúzia de frases prontas, disse o poema. Quando for com tudo, me apresente.

Coloquei a beleza em destaque na parede. Quando levanto, é a primeira coisa que vejo. É a tua imagem que desce do pedestal e me cerca.


RETORNO – Imagem desta edição: tenista sérvia Ana Ivanovic.

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