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5 de março de 2012
O GUARDA
Nei Duclós
Fui convocado para ser guarda da fronteira.
Fico na linha divisória imaginária,
no miolo do deserto. Tenho por testemunha
os lagartos e alguns insetos.
Os pombos correio que conseguem chegar
entregam a mensagem e morrem.
Minhas armas não enferrujam, porque trato bem delas.
Aponto para qualquer sombra que se aproxima.
Não posso abandonar o posto porque minhas botas estão gastas.
Meu salário é de mantimentos, que chegam uma vez por ano,
no lombo de camelos. Água eu tiro das nuvens esparsas
que consigo acertar com um um tiro.
Um dia chegou uma carta de amor.
Tinha o perfume de suas mãos.
Ela disse que ainda me esperava.
Deus não tem piedade de mim.
Achei que tinha sobrevivido ao último inverno.
Até que um anjo se aproximou da casamata
e veio falar comigo. Ele tinha um olhar
que era de piedade e assombro
Deponha as armas, me disse. Toda essa região
pertence agora a outros poderes.
Cumpriste tua missão, soldado do Rei.
Trouxe estrelas para colocar na tua farda
Eu não queria anistia nem medalhas.
Só a volta para minha casa
onde o amor planta a primavera.
Só queria a mulher que me espera.
RETORNO - Imagem desta edição: cena de Andrei Rubliov, de Andrei Tarkovsky - 1966.
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