21 de fevereiro de 2012

VESTIDO


Nei Duclós

Que os deuses do amor e da alegria te cerquem de doçura nesta manhã. Que o prazer seja tua companhia e lembres de mim quando os ventos travessos levantarem teu vestido.

Você estava toda lisinha no seu vestido fino, com as curvas emoldurando a paisagem. O desfecho foi um beijo suave e molhado antes que a noite viesse nos dizer obrigado.

Não acredito na minha sorte. Deverias estar encantando as estrelas mas preferes dividir comigo algo mais prosaico, um lençol, um chuveiro.

Quando o silêncio tem perfume, que exala naturalmente, é porque alguém se apaixonou e não quer dar bandeira. Acha que engana.

Perguntam porque insistimos nisso. Não sentem o mel escorrendo? Parece que não sei.

É só um convite. Não tira pedaço. Apareça.

Fiz a ronda nos canteiros. As flores dormiam, mas de um jeito diferente. Algumas pétalas respiravam sonhos. Eras tu, comigo.

Bem, já disse o que não devia. Agora parto num navio que sai agora. Mande mensagens. Eu pego na volta do apocalipse.

Te fazem sofrer porque são aliens, vieram de planetas de mosaico. Ninguém pode abalar uma rainha. Volte para a terra, magnífica.

Fica pertinha que assim acostumo. Teu corpo de deusa como um paraíso

Esquece o cara, cansei de ser teu confidente. Vou te contar um segredo: quero você para mim. Vê se abre uma brecha.

A poesia seca e considerada, com trocadilhos extremos, muito estudada, sonha em ser poema em teu colo, fada.

Agora que ninguém está vendo, invente uma rima. Preciso de música. Vinda de ti, musa.

Os ventos correm como potros soltos pelo mar, levantando espuma e areia. A calmaria é quando mergulham em busca das sereias.

Agradeça quem lhe faz feliz.

Ela não suporta xaveco, prefere temas mais contundentes, como achar meus poemas uma porcaria. Eu tento acertar, submisso. Tudo pode a realeza feminina.

Guarde suas críticas. Nem tudo é poesia. Fique tranqüilo. Mais da metade é só viagem na alegoria. Desfile de paixões sem brilho. Esperanças.

Elogio ofende. Seja duro. Diga que aquilo não presta. Se ela perguntar por que, desconverse. Jogue a charada no ar, depois roube um beijo.

Certo, não vamos debater o que expressamos de mais frágil. Não teria graça. Preferimos ficar em roda, trocando versos. É a nossa força.

Mirei no alvo mas parece que atirei a esmo. E sou bom de pontaria. É que tinha muita gente.




RETORNO - Imagem desta edição: Liv Tyler.

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