28 de fevereiro de 2012

FASE


Nei Duclós

Fomos morar longe. Lá onde fabricam o horizonte.

É só uma fase. Ainda seremos Lua Cheia.

Quem poderá dizer que não estamos encantados? Há uma fogueira em teu rosto.

Teu olhar se incendiou quando entrei na sala. Todas as outras luzes se apagaram.

Dançamos uma valsa. A orquestra estava a cem quilômetros de distância.

Como me suportas, como me aguentas? perguntei a horas tantas. Gosto quando cantas, ela me disse.

Subiste na carruagem. Teu vestido tomou conta da paisagem.

Deixaste uma pista. O fiapo vermelho do teu vestido.

Te convidei para ir ao cinema. Estava fechado. Então pedi para imitar uma comédia romântica.

Puxei teus cabelos, conforme pediste. Custo a soltar porque acabei gemendo por mais tempo.

O sol pediu um poema. Retribuiu com a luz dourada sobre o oceano.

Já é hora, disse a Crescente. Recolha-se. Excesso de Lua te deixa grogue.

Levamos o sonho para passear. Que trote, que garbo

Siga meu rastro. Sou o que pisa de lado.

Alguém me expulsa. Teu coração se parte.

Você me entende. Eu falo a língua das cigarras.

Gostei de ver-te. Acho volto amanhã nesta vitrine de loja.

Me deste um beijo. Achei que era uma tempestade.

Agora é partir para outra, não tem conserto. Procuro o túnel do tempo.

Amei tua volta. Agora posso dispensar o vazio das tardes

Perdi de novo. Foste embora como um trem que parte antes da hora.

Sonhei na viagem. Quando acordei estavas ao meu lado.

Pisei no barro. É que me distraí te procurando nos terraços

Te vi por alto. Eu estava consertando a asa.

Pesei a palavra. Dez toneladas sem tua carta.

Dobrei a esquina. Estendi um choro até a praça

Não vieste. Ficou um buraco no universo

Depois perguntam: de onde vem isso tudo? Abro os braços, desolado. Por que é tão dificil entender? Aponto você, que está por toda parte.

Agora te aperto pela cintura. Não reclame.Avisei que hoje eu ficaria zonzo.



RETORNO – Imagem desta edição: Forgotten Horizon, de Salvador Dali.

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