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1 de fevereiro de 2012
CORPO
Nei Duclós
Teu patrimônio é o limite do teu corpo. E até isso devolverás.
Lua nova, botão branco de flor pregado no desmaiado firmamento da despedida de janeiro. Diga que estou perto do fim da solidão e do seu corpo.
Vou ficar uma semana longe de ti. Vou medir a saudade para ver se eu agüento.
Deito, esfolo, viro do avesso. Se quiser mais detalhes, peça.
Acabou janeiro. Agora só o ano que vem para ficar a pelo embaixo do sol a pleno. A não ser que outros meses sigam o exemplo e tirem tua roupa, modelo
Acordei um problema. Tens a solução ou ligo para a emergência?
Acho que ela não volta mais. Nem com poesia. Sua última mensagem virou estátua de sal
Sem um coração pipocando na tua frente, adeus poema. Volte para suas anotações, guarda-livros.
Finjo que não importo e me concentro no trabalho. Quem dá importância para o ruído dessa flor que desabrocha no outro lado da montanha?
Preferes que eu faça conferências em vez de ficar tecendo sonetos na tarde morna. Assim me ocupo sem perder teu tempo, atenta.
Espalho versos na planície dos teus olhos. Catas alguns para me dar um recado. Tento decifrar a charada, mas só tu tens a chave
Nada vai trazê-la de volta. Nem unicórnios selados, carruagens de pássaros, redes de seda, sonetos. Ela se esconde na gruta avessa ao meu verso.
Tua beleza escandaliza. Não é possível ver normalidade numa manifestação divina. O pior é ter que admitir tua humanidade, sob pena de ser por ti excluído.
Me arrependi do que não foi dito. Quando calei travei o tempo em meus pruridos. Por isso agora me escancaro, asas assombrosas a fazer ruído.
Coloquei a porção de amor em cada porta. À noite, fui recolhendo os guizos. As estrelas torciam, rindo para a última nuvem do crepúsculo.
Ela foi sumindo, devagarinho, como nuvem azul desmaiada no fim do dia. Depois se dissipou quando me distraí. Varri o céu e nada encontrei. Foi um sonho, andorinha.
RETORNO – Imagem desta edição: Patricia Arquete.
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