Nei Duclós
Ela vem, fica um pouco e vai embora
O vento a leva e penso num acordo
Quem sabe ofereço um cais feito de cordas
que me prendam enquanto fica solta?
Ela tem razão em me deixar à toa
Não sou confiável. Tomo notas
Me apaixono fácil pelo que nem sonha
Seu cabelo. E as ombros, olhos, sardas
Fica, peço, e ela se abaixa
Quer saber o que tenho sob a roupa
É um pássaro que remendei a asa
Sou eu, diz ela. E chora
Por que tanta palavra exposta?
Porque tudo é irreal e ela me faz falta
Sou arisco com o amor que não se mostra
No resto, estou sem rosto
Adeus, disse ela, no meu sonho
Porque de fato nem sequer me beija
Sobras em tudo, me avisa, e se escapa
Pelos beirais sujos das docas
Agora desisto e caio fora
Deixo um bilhete sob a concha no mosaico
Não lerás, mudez na estrada
Mas sabes que é um verso e ele mata
RETORNO - Imagem desta edição: Juliane Moore