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19 de novembro de 2011
JACK O MARUJO E A BATALHA DA MANCHA DE ÓLEO
Nei Duclós
Um rasgo de 300 metros no fundo do mar na Bacia de Campos verte óleo sem parar há muitos dias. Enquanto a mídia se esmera em divulgar os releases da empresa responsável pelo estrago, a Chevron, Jack o Marujo resolve interromper a lua de mel para lutar contra os responsáveis pelo crime. Nosso capitão acredita que deixar impune um estrago desses é um convite para destruir completamente o litoral brasileiro. Nesta edição, detalhes sobre a Batalha da Mancha de Óleo e seu desfecho imprevisível, emocionante e dramático.
FIM DA LUA DE MEL
Em passagem por Paris, o casal Jack Marujo e a Sereia foi passear no Sena junto com artistas e escritores, fãs das frases do capitão
Gazeta Cisne Branco fará edição especial sobre lua de mel do casal Jack Marujo e Sereia.Distribuição estará a caro de cem mil pombos correio
Jack o Marujo é poesia com adaga e garrucha
Você interrompe a lua de mel para brigar contra os furadores do pré-sal! disse a Sereia. Amo o mar, disse Jack o Marujo. Netuno me convocou
Publicaram releases e sobrevoaram a mancha com helicóptero da empresa, disse o Imediato.Vou bombardeá-los para mudar a pauta,disse o capitão
No pé da capa da Gazeta Cisne Branco,uma foto de Jack o Marujo e a chamada "Vamos matá-los desta vez!",que se transformou em grito de guerra
"Jack o Marujo avança sobre a mancha de óleo. Marinha de Guerra entra em prontidão" diz a manchete da Gazeta Cisne Branco
A Marinha de Guerra tem que intervir, disse Jack o Marujo. Não se trata de erro tecnológico, mas de assalto a mão armada
Odeio petroleiros, disse Jack o Marujo. São os piores cargueiros do mar, emporcalham tudo por onde passam. E ficam impunes.Vou desativá-los
Abrir uma fenda de ms no chão do mar para tirar petróleo é cometer harakiri, disse Jack o Marujo. Só que não é suicídio, mas assassinato
Eles reusaram plataforma desativada e furaram sem critérios o leito do mar só para cumprir contrato,disse o Imediato.Morte! rosnou o capitão
Não se trata de defender o mar! berrou Jack o Marujo. Mas de defender a própria mãe, que está sob a mira dos assassinos! Dá para entender??
No planeta de onde vieram, os emporcalhadores do mar tomam banho de petróleo e fedem a peixes de metal que devoram entre gargalhadas
Risco ambiental enorme. Vão forçar o óleo a se depositar no fundo do mar, disse o Imediato. Risco ambiental um bom caralho, disse o capitão
Vou mandar os corsários colocar a ferros o dono da empresa que emporcalhou o mar, disse Jack o Marujo. E vou pô-lo na prancha
É um bilhete. Veio na pata de um pombo correio, que morreu ao chegar, disse o Imediato. Ainda estão soltos, rosnou Jack o Marujo
Já sinto o cheiro do óleo, disse Jack o Marujo. É preciso não ter mãe para fazer um estrago desses. Como se o mar não fosse nosso berço
Monges se colocam gasolina e ateiam fogo. Querem ser livres, disse o Imediato. Eu também quero. Vou fritar esses pulhas,disse Jack o Marujo
Vamos matá-los desta vez! gritaram os corsários.Jack o Marujo estendeu a bandeira preta de ossos e caveira.Prometo que sim,grunhiu o capitão
São flibusteiros, disse Jack o Marujo. Lutei contra eles por séculos. Agora eles tomaram o poder e nos deixaram confinados na poesia
Vivemos no fundo do mar, disse a Sereia. Tirar petróleo de lá é vampirizar o sangue da Terra. O que eles tem contra o vento?
Fizeram um rasgo de 300 m que verte 3.700 barris/dia, disse o Imediato. Combustível suficiente para levá-los ao inferno, disse Jack o Marujo
Jamais vão desistir de assassinar o mar, disse Jack o Marujo. Vou jogá-los na mancha e tocar fogo. Vou matá-los desta vez.
GUERRA À VISTA
Há sereias agonizando, Netuno me avisou, disse Jack o Marujo para a esposa. Você assume de enfermeira. Quero lutar, disse a Sereia
Pombos correios morrem quando sobrevoam a mancha de óleo, avisou o Imediato. Malditos canalhas, matam até meus pombos, grunhiu Jack o Marujo
O que você vai fazer quando chegar na mancha de óleo? perguntou a Sereia. Ainda não sei. Minha raiva vai me orientar, disse Jack o Marujo
Vou colocá-los no porão e soltá-los na mancha de óleo. Depois, toco fogo, disse Jack o Marujo
Vou convocar os marinheiros, disse o capitão. Todo barco será benvindo. Vamos desativar as plataformas da empresa. Quem impedir leva chumbo
Mas o Sr. não tem homens nem cacife,disse o Imediato.Basta um punhado de bravos. E minha vontade, disse Jack o Marujo.Vou matá-los desta vez
Sujeitos endinheirados emporcalham o mar, compram a nação e calam a imprensa. Não existem mais homens no país? perguntou Jack o Marujo
Dez mil voluntários com barcos acudiram ao chamado, disse o Imediato. Por pombos correio? perguntou o capitão. Não, internet,disse o oficial
Dez mil patriotas! Temos então uma esquadra, disse Jack o Marujo. Quem precisa de um porta aviões?
"E existe um povo que a bandeira empresta para cobrir tanta infâmia e covardia!" gritou Jack o Marujo. Quero Castro Alves a bordo!
Uma criatura coberta de óleo pousa na amurada do barco. É você, meu albatroz, águia do oceano? disse Jack o Marujo."Varrei os mares, tufão!"
Matá-los não vai adiantar, nem queimar a mancha de óleo, que continua a verter. Isto não é uma guerra comum, disse a Sereia.
Você precisa lutar pela verdade, sim, mas a briga é outra. Se queimares a mancha todos os peixes morrerão, disse a Sereia, baixando a cabeça
O que devo fazer? Ceder? grunhiu Jack o Marujo. Não, meu amor, disse a Sereia. Precisamos expulsá-los do país e mudar o governo
Chevron é a velha Standard Oil mais a Texaco, disse o Imediato. As sete irmãs! grunhou Jack o Marujo. Deveria tê-las matado da primeira vez
Serra e fogo na mata, petroquimica e usina nuclear no litoral, óleo no mar, desvio do São Francisco: somos governados por demônios
Vamos ver se eu entendi. Eles sujam nosso mar de óleo e os jornalistas estão cagando miudinho? perguntou o capitão.Por que não usam saiotes?
Veleiro ecológico está sendo contatado, disse o Imediato.Veleiro que usa mil litros de combustível não é confiável, disse Jack o Marujo
VAMOS MATÁ-LOS DESTA VEZ!
Estamos perto da mancha de óleo, disse o Imediato.Quais suas ordens, capitão? Eles devem estar por perto, disse Jack o Marujo.Vamos matá-los
Vou saltar na água, disse a Sereia.Convoquei companheiras.Vou tomar pé da situação e te falo. Devias ter ficado em Paris, disse o capitão
Onde estão os voluntários? perguntou Jack o Marujo. Dispersos em mil km de costa, disse o Imediato.Não temos poder de abordagem suficiente
Ou vencemos esta guerra hoje ou vão rasgar o chão do nosso litoral como se fôssemos o Frankestein na mesa de operações, disse Jack o Marujo
Não podemos atacar os barcos que estão fazendo a llimpeza da mancha, disse o Imediato. Limpeza o cacete, disse Jack o Marujo
Não somos o Greenpeace para ficar fazendo piruetas para o inimigo. Ou encaramos essa guerra de frente ou morrreremos, disse Jack o Marujo
As sereias foram envolvidas pela mancha de óleo.Estão morrendo, disse o Imediato.Não! sussurrou Jack o Marujo em pânico.Ainda temos Paris...
Canto em código morse da Sereia indica o lugar exato onde estão os donos da empresa.Naquele navio! disse o Imediato.Atacar! gritou o capitão
O Imperador nada pode fazer, disse o Imediato. Falou que não temos Marinha suficiente.O pior é fazer parte da deles, disse Jack o Marujo
Barcos voluntários foram imobilizados pela Marinha de Guerra, capitão. Estamos sós diante da nau capitânea do inimigo.Não importa,disse Jack
Vou aceitar a proposta de armistício, disse o Imediato. Não podemos enfrentar a frota. Pode ir, oficial, disse Jack.Tenho contas a acertar
Sereia, onde estás? murmurou Jack o Marujo. Não posso atacar sem saber tua posição exata nesta batalha
Só restaram nós quatro, disse o corsário. Três piratas e uma mulher. Mulher? disse Jack. A Sereia deve ter facilitado a entrada
Recado da Sereia, disse a mulher. Ela juntou as sobreviventes e vão começar a cantar para atrair inimigo para dentro da água. Pode atacar!
Jack o Marujo segurou a bandeira, puxou a garrucha e deu ordem para ir em frente, direto para a nau capitânea dos responsáveis pela mancha
Era apenas um barco rodeado de destroyers. Movido a vento,com cinco pessoas a bordo. Apoio logístico do canto das sereias,banhadas de óleo.
O que acontecerá nessa batalha, Deus!?
Jack mirou a garrucha na bandeira do inimigo enquanto o barco se aproximava perigosamente da nau capitânea. Eles vão revidar! gritaram todos
O barco de Jack sumia diante do navio mais imponente da frota inimiga. Sua bala atingiu a amurada obrigando franco atiradores a recuar
Helicópteros de vários canais internacionais sobrevoam a batalha, que está sendo transmitida ao vivo. Milhões suspendem a respiração
Franco atirados se postam de novo na amuirada e dão uma carga, que atinge a tripulação do pequeno barco.Jack é ferido no ombro. Mira de novo
Sangue de Jack espirra na água e assusta a Sereia,que pula para dentro do barco. Está preta de óleo. Na altura do peito abre-se então a rosa
A rosa que se abre no peito da Sereia tomou emprestado o sangue de Jack. Tiro que atingiu o capitão foi seguido de outro, endereçado a ela
Antes de ver o que estava acontecendo, Jack dispara novamente e atinge o capitão da nau inimiga. Há um urra em todo o país continente
Jack se debruça sobre o corpo ferido da Sereia,que brilha com suas escamas tomadas pelo petróleo.Branco batom nos lábios em coma.Ela agoniza
Diante da cena,os barcos voluntários rompem o cerco e se dirigem para o miolo do teatro de operações. Almirante inimigo ferido recebe ordens
Decrete a vitória e se arranque daí, diz o presidente americano para o almirante ferido. Querem agora um herói? Burros!
Lentamente, o gigantesco navio se move em direção ao alto mar, enquanto o barco de Jack mantem-se firme com sua tripulação ferida.
Todos os barcos voluntários então abrem fogo contra o inimigo, com balas ricocheteando na armadura e fazendo cócegas no casco
Foi assim Jack o Marujo, com um punhado de bravos, fez a guerra e expulsou os responsáveis pela mancha de óleo na Bacia de Campos
A MORTE DA SEREIA
Com todas as bandeiras hasteadas, a frota de voluntários cercou o barco de Jack, onde agonizava a Sereia, banhada pelo sangue do capitão
Tínhamos Paris, murmurava Jack chorando pela primeira vez na vida.Você quis lutar,sua louca. Te amo, disse ela. E olhando para o nada, foi-se
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