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2 de maio de 2006
GREVE DE FOME
Anthony Garotinho está sendo ridicularizado por todos os lados com sua greve de fome. Eu acho um gesto político da maior importância. Denuncia o que ninguém quer admitir, a de que vivemos numa ditadura, formada pelo sistema financeiro, a mídia e o atual governo. E põe algo urgente e necessário: supervisão internacional das eleições, que correm o risco de serem fraudadas ao reduzirem para dois lados da mesma moeda as opções do voto de cabresto (o voto útil) .Como pode um pré-candidato como Lula ficar um tempão no horário nobre dizer que o país está melhorando, sendo desmentido pelo noticiário que veio a seguir? Como pode fazer campanha política dentro de uma igreja católica? Como pode um massacre contra um pré-candidato como Garotinho, que é a Roseana Sarney da vez, já que possui condições mínimas de entrar no páreo e por isso mesmo está sendo sucateado? Pintá-lo como o demônio, como fez a Veja numa capa não só tendenciosa, como criminosa (pois julga e pune antes de o acusado ser avaliado pela justiça) e expô-lo ao ridículo, mesmo que seja no fim considerado culpado, não é uma atitude digna da cidadania. Garotinho, no mínimo, contribuiu com algo que falta atualmente na campanha: sobriedade, dor. Ele se prostra diante da gargalhada geral da nação, que ri de tédio, pois acredita que nada poderá mudar mesmo, e ri de medo, pois se Garotinho for longe demais, como ficariam os piadistas de plantão?
ÁGRAFO - Garotinho me surpreendeu. Estava de má vontade com ele desde que soube que as prévias do PMDB foram manipuladas por um casuísmo de última hora (o peso dos votos mudou antes da votação). Sua carreira política não me impressiona e quando fala não convence. Mas a partir do momento em que ele contraria o próprio partido (provocando indiferença de Michel Temer, o presidente do PMDB), a família (sua esposa de cabeça baixa no anúncio da greve), e os meios poderosos de comunicação (que se defendem dizendo que são isentos, quando todos sabem que não são) algo novo está no ar. Nesta época de apetite pantagruélico pelo poder, em que tudo é devorado pelo estamento, de merenda escolar a rosca de parafuso, se recusar a comer, lança algo fora de moda: sacrifício pessoal em busca de justiça.
Pode ser criticado, mas não provocar deboche até o osso, fazendo que todos fiquem na mesma posição de Joelmir Betting na Band, que falou na campanha Come Zero, até do autor de uma frase estapafúrdia por dia, o presidente Lula. No lugar de comentar a greve de fome do ex-governador, Lula falou dele mesmo, já que ele é a medida de todas as coisas: se fosse fazer greve de fome toda vez que me atacam, disse, eu seria nati-morto. Quem falou nele? O assunto era Garotinho. E onde está a lógica da metáfora: se fizesse o que o outro faz agora, nem teria nascido? Fazer sem nascer. Idiotia ágrafa, cevada no horror aos livros.
CUCARACHOS - Evo Morales nacionalizou tudo, dando um tapa na bunda do Brasil, que finge ser de esquerda e não passa de testa de ferro das multinacionais, a começar pela Petrobrás, que é minoritariamente brasileira. Chavez e Kirchner decidem fazer do Brasil um quintalzão e querem colocar um gasoduto que cruza o país-continente para levar o gás da Venezuela para o Prata. Lula acha que tem influência, que é líder mundial, enquanto não passa de uma nulidade internacional. Entrega o país para se vangloriar e tem como resposta os maiores desaforos. Levou um tranco da China, que aumentou sua presença aqui graças às concessões que fizemos. Agora o governo recebe um chapéu do cocalero, tão festejado como parceiro do Brasil. Morales está na dele, faz o que bem entende. O Brasil é que está errado. Viramos o que dizíamos dos países latino-americanos de fala espanhola. Nós somos agora os cucarachos, um paiseco que não é de nada, que gasta os tubos em publicidade oficial, que tem aliados e membros do governo denunciados pelo Procurador da Justiça como uma grande quadrilha, que já começa a manipular as intenções de voto e ainda quer posar de auto-suficiente.
RETORNO - 1. O DF não foi atualizado nos últimos dois dias por problemas técnicos, não por se feriado. As edições se acumulam na mente e pedem para sair logo. 2. A imagem todos conhecem: Pietà, de Michelangelo.
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