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2 de fevereiro de 2006
O CACHORRO MORDE A LUA
Você se esforça, mas não consegue evitar. O ruído das bandas nacionais pop/rock chegam até a sua paciência. Mão para cima! grita um vocalista. Agora aquela banda do norte, diz o apresentador. E esta então aqui do centro. E vamos à do sul. É tudo o mesmo som. Passei em frente ao terreno baldio, chamado de parque, do Planeta Atlântida aqui em Floripa, que juntou todas essas nulidades que, por motivos misteriosos, fazem multidões ficarem de mãos ao alto. Tem lixo até hoje lá, ainda não recolhido. Um ciclista pobre solitário percorria os sacos reservados para a coleta. Dias e dias dois pobres xirus ficaram juntando quantidades de porcarias acumuladas no berreiro cacifado por grandes anunciantes. Tento achar normal, mas não consigo. A idiotia é o cachorro mordendo a lua. Não deveria alcançar, mas consegue fazer um estrago medonho.
BRASIL GRANDE - O governo cumpre o que prometeu: está gastando como nunca. Acabou o arrocho. Recebo encarte colorido sobre os feitos de Lula. Pela Internet, pps ufanista libera a porção meu Brasil eu te amo pela rede. Vai ver estão com a razão. O Brasil é mesmo o máximo. Tornou-se o Brasil Grande. Ninguém segura este país. Ame-o ou deixe-o. Nossa democracia é imbatível. Nossa Petrobrás é integralmente brasileira. Nossa tecnologia é de ponta de faca. Nossos craques vão detonar na Alemanha. Já detonam (em campanha bilionária) no banco, imaginem em campo. Quase cem por cento da meninada está nas escolas. O que vemos nas ruas é pura ilusão. Todo mundo está empregado e quem não está tem negócio próprio. Mercadoria chinesa é que não falta. É moda baixar as calças para a China. A ditadura chinesa tirou um blog do ar e Bill Gates aceitou. Liberdade na rede é o sonho que vai acabar? Ou já está acabando e não sabemos ainda?
COOL - Aos poucos, as novas safras de pseudo escritores, exaustos de tanto aparecer na mídia que entroniza o Mesmo, assestam suas baterias contra os grandes escritores do passado. É moda achar que Machado de Assis, bem, nem foi tão bom quando inventou Capitu, entre outras coisas. Funciona assim: eles enchem o saco com a Capitu, como se fosse a única personagem da obra de Machado e depois começam a cagar em cima. Duas armas são infalíveis: o ressentimento da mediocridade, que não consegue criar algo que preste, e o espaço disponível. Érico Verissimo já está no papo: é apenas um contador de histórias. Ter escrito algumas obras primas não vale. Ele sabia contar uma história, vejam que fenômeno. O Rio Grande do Sul foi erradicado pelo bom mocismo dos provincianos das cidades maiores (as cagalópoles) que nos chamam de regionais. Assim como os americanos vêem os brasileiros como macacos, a cultura bem fornida enxerga o Rio Grande como algo xucro, confinado em suas estepes pampeiras. Sorte que temos por aqui alemães e italianos, que assim fornecem boas pautas para a mídia viciada no Mesmo.
BRASINAS - Meu filho não era americano, chora a mãe, tardiamente, que perdeu o filho brasileiro no Iraque. Era mariner, ganhava em dólar. O Império compra a tua vida. Te paga por mês. Te envia para a morte. Te manda de volta num saco plástico. É como negro ou chicano em filme gringo: bom para morrer. Acaba sempre morrendo. É o destino dos coadjuvantes. Gaúcho escreve? Deve ser alguma história de bárbaros. Aí você pega As Brasinas, obra prima de J. A. Pio de Almeida, que existe numa edição sumida do autor, e vê lá os espíritos, os sumidouros, a grandeza do humano no ermo absoluto, como toda grande literatura universal que se preze. Alguém vai lá entrevistá-lo? Não, preferem dar páginas e páginas de sub-escritores cool, sentadinhos em seus pisos encerados de suas bibliotecas herdadas do papai. Ou então sentam no colo de escritores de mentira, inventados para satisfazer a sede da idiotia, como denuncia Urariano Mota no La Insígnia. Cachorros mordem a lua. A cultura minguante do país exangue.
RETORNO - O barco detonado acompanha a margem da Argentina, em mais outra foto sobre o rio Uruguai de Anderson Petroceli.
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