8 de fevereiro de 2006

TODOS OS DIAS EU DIGO

















Nei Duclós

Todos os dias eu digo:
escreverei um poema
Todos os dias eu falho
escrevo acontecimentos

O poema é a notícia
que não veio
que ficou no meio
censurada pelo tempo
(pela caneta
de um funcionário alheio)

Pois o tempo é exigente
e exerce o medo
como um cão no jardim
de olho azedo

Todos os dias eu pulo
no quintal seco
e sou mordido no ventre
(lugar onde o vento
não chega)

De mim nascerá um filho
talvez eu mesmo
que não morrerá tão cedo

Até lá
mil gerações
tombarão antes do tempo
(a eternidade não tem
a pressa que eu tenho)

RETORNO - 1. Poema publicado no meu livro Outubro (IEL/A Nação, 1975). O original foi escrito numa máquina Reminghton, numa lauda de jornal, numa redação, bem no início do expediente.2. A imagem é a de um anúncio publicitário do artista completo Fulvio Pennacchi.

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