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16 de fevereiro de 2006
PALAVRAS SÃO PEDRAS QUE ROLAM
Vi hoje matéria especial no Bom Dia, Brasil sobre os Rolling Stones. Misturava maio de 68 com a banda britânica. Os Stones são de 1966, dois anos antes. Maio de 68 é o que diz a palavra: o movimento operário (maio) foi decisivo para a paralisação de Paris. Foram dois vetores: esse, operário, sob liderança comunista, e outro, anarquista, das bandeiras negras, que veio da universidade e explodiu para as ruas, em luta frontal contra a polícia. O anarquismo sempre foi poderoso. Sua força vinha do século 19, mas tornou-se maior no século 20, especialmente nas grandes manifestações operárias (no Brasil, foi um arraso). Os comunistas foram a reboque.
O que define 68 é o movimento de massa, um evento da luta de classes, que pelas circunstâncias tornou-se o estopim de um fenômeno detectado brilhantemente por Guy Debord, o intelectual maldito que acabou se suicidando: o da sociedade do espetáculo. Diz Anselm Jappe: O " espetáculo" de que fala Debord vai muito além da onipresença dos meios de comunicação de massa, que representam somente o seu aspecto mais visível e mais superficial. Em 221 brilhantes teses de concisão aforística e com múltiplas alusões ocultas a autores conhecidos, Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real.
Pixações de muro como é proibido proibir eram marginais às manifestações, mas na matéria da Globo tornou-se hegemônico. Cada um diz o que quer. Palavras são pedras que rolam.
Os anos 60 tornaram-se uma pedra no sapato das gerações seguintes. Tudo o que é importante e de vanguarda foi feito nos 60, não adianta nem chover no molhado. Com isso foi jogado na lama o espírito das novas gerações, catequizadas pela mídia obcecada (e equivocada) sobre o tema. A liberação dos costumes, que já existia desde o início do século 20, tornou-se uma espécie de Santo Graal dos textos midiáticos: tudo começou nos 60, como se aquela geração tivesse se apropriado da invenção da pólvora. Nada acontece pela movimentação dos astros. Planetas e estrelas rolam no espaço por um mistério insondável e não adianta colocar o magnetismo sideral como causa aquariana dos 60. O que houve foi uma confluência de eventos identificáveis, que geraram uma percepção diferente da História e do mundo. Uma percepção, não uma lei.
Quando escuto a meninada forçando a gíria, lembro como era confinado a pequenos grupos as palavras fora da ordem. Hoje só falam assim. Ninguém mais, das novas gerações, fala diferente, tá ligado? É impressionante. Notaram que o hahã (com agá aspirado) que segue as frases alheias como se fosse uma interjeição de concordância, ganhou nova densidade? Tem uma música própria, é uma espécie de c.q.d (como queríamos demonstrar). Serve para dizer: não só sei o que estás dizendo, como já sabia antes, só estou te dando uma chance. Hãhããmm!! (a interjeição sai pelo nariz).
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