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1 de junho de 2004
O IMPÉRIO DA MERRECA
Meia dúzia roubam tudo o tempo todo e nada sobra para a população, que precisa sobreviver contando os trocados. Aproveitando a carona, os empregadores chupam o sangue dos seus colaboradores e depois os jogam fora, iludidos de que podem contar sempre com a disponibilidade do talento. O perigo que correm é contratar a contrafação da civilidade, a imitação da poesia, a ilusão da caretice travestida em eficácia organizacional.
TUDO AO COINTRÁRIO - A indignação se excede por excesso de insumo e por isso é desmoralizada todos os dias. A revolta não pode cair nesta armadilha. Ela precisa da elaboração do gesto e da linguagem. Vamos falar então da síndrome do contrário. A começar pelo ruído, um consenso que se espalha como fogo na palha seca e transforma o silêncio numa exceção. Você odeia o barulho? Pois o contrário é o que conta. Todos os dias, peço para baixarem ou desligarem o volume nos estabelecimentos comerciais, pois há uma certeza de que atordoando o cliente será possível melhor explorá-lo. Tudo o que você diz ou faz é entendido pelo avesso. De tanto tropeçar nesse equívoco do ouvido e do olhar alheio já falo antes tudo ao contrário, para ver se dá certo. É claro que não dá. No Brasil, não finja que você está fazendo auto-crítica, pois todos entenderão que você está dizendo a verdade. Você gosta de ser sincero? Então todos dirão que você é falso. Você consegue ser eficiente apostando tudo na criatividade? Irão te chamar de esculhambado (ou "desorganizado"). Você bate no Lula? Vão te confundir com o Serra, pois não há como escapar, sob essa ética troncha, de nenhum dos dois lados. Uma reportagem do Estadão revela que o governo Lula deu força para a candidatura Maluf para poder dividir mais e assim aumentar as chances de Marta Suplicy. Se isso for verdade, é o escândalo maior. Esqueceram o perigo da direita no poder, os longos anos de sofrimento? Numa carta irada no Diário Catarinense, um leitor compara o atual regime com uma ditadura, confirmando assim a análise que fiz aqui várias vezes. O leitor exemplifica a reeleição e o número exorbitante de vereadores como casuismo ditadorial, entre outras traições desta fals democracia em que vivemos. Uma ditadura disfarçada, que serve para desmoralizar a verdadeira democracia e assim aplainar o terreno para a volta da direita de verdade (e não esta que está no poder, de punhos de renda).
PSICOPATAS - Arnaldo Jabor traça o perfil dos modernos psicopatas, os que te atraem, seduzem, chantageiam e te sugam para depois te jogar no lixo. Que acreditam nas próprias mentiras. Acrescento: que fingem concordar contigo o tempo todo para depois jogar lama no teu nome. É assim o Brasil em que vivemos. Então, ficamos por conta de nós mesmos. Não abandonaremos o humanismo e a civilização, por mais arcaico que isso soe. Não vou te mentir, amigo, para que fiques ao meu lado por um tempo e depois, no primeiro instante, te lançar fora como um papel amassado. Aprendemos a amizade em longa noite de terror, que ainda não acabou. Ficamos à margem, vendo todos os outros emergirem com seus cacoetes, suas mesquinharias, suas granas. Eles são tudo, até mesmo "marginais". Adotam todas as posturas, a que for mais conveniente no momento. Assim poderão te acusar de careta ou de muito louco, de reaça ou comunista, e de outras palavras fora de moda. Se estiverem bem plantados na imprensa, terão também blogs, pois para eles a Internet é mídia de suporte, e não mídia central, a mídia das mídias, o exercício da liberdade plena. Para muitos, o blog é uma forma de ser mais engraçadinho ou ousadinho, deixando o bom-mocismo para o espaço que ocupam na midia impressa. Assim, faturam cá e lá.
REVOLUÇÃO - Para mim, blog é revolução. Ou você diz o que pensa e sente, ou caia fora. Não fique dando uma no cravo e outra na ferradura. Diga a que veio. Os anjos te acompanham. E não acredite nos resenhistas sem alma, os que são frívolos diante dos Diários de Motocicleta, como se pudessem devorar tudo, do mito Che ao cineasta Salles, como se estivessem acima da carne seca e fossem os reis da cocada preta. São apenas sabujos. Acreditam no que seus próprios medos desoavaram em praias cheias de sangue.
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