23 de junho de 2004

BRIZOLA, O FIM DO EXÍLIO

Acabou, Brizola, acabou enfim o teu exílio. Voltas para a nossa terra pela última vez e dela não poderás mais ser expulso. Deixas para nós, como presente inviolável, que só poderá ser reaberto por nossa coragem, o que um dia levaste nas costas quando te empurraram para fora da fronteira em 1964. Pois levaste o Brasil contigo, Brizola, a pátria soberana composta por nós, o povo, e este território sagrado. Quando voltaste em 1979, cercado de incompreensão e inveja, trazias o tesouro nas mãos. Teu heroísmo então foi temporariamente enterrado, e só revelado agora em todas as mídias. Por que calaram enquanto estavas vivo, comandante? Porque tinham medo de ti e do que trazias de volta para nós. O país que perdemos naquele abril medonho.

GRANDEZA - Teu caixão palmilha as ruas e é depositado no Palácio Piratini, onde defendeste a honra do teu mandato, a glória da presidência que nos escapava, de armas da mão e com a oratória que lá no Rio Grande aprendemos desde criança. Olho consternado o comentarista da Globo de dedinhos levantados asseverando: ?Ele não era um administrador?. Quem são eles para te julgar, comandante? Querem usar a Legalidade para te desqualificar como político. Mas o que fizeste, fica. E não é apenas o dinheiro público que usaste com grandeza na educação, na cultura e na infra-estrutura. É o que tinhas de mais precioso, Brizola, a noção exata de pátria e o que ela significa. Aprendeste com teus dois pais, o que foi assassinado e o que te criou. Aprendeste com Getúlio e tentaste, a vida toda, ter aliados à tua altura. Mas nós somos fracos, Brizola. Não tivemos o despreendimento de marchar ao teu lado quando mais precisavas. Votávamos em ti, mas te evitávamos. Queríamos tua presença, desde que obedecesse aos nossos ditames, ao nosso pensamento destruído junto com o Brasil. Chegaste, então, a abrir mão temporariamente da tua contundência. Compuseste até o osso com quem estivesse disponível. Te tiraram a sigla histórica, mas não esmoreceste. Lutaste pelo teu partido para que o trabalhismo verdadeiro tivesse continuidade e não morresse contigo. Sacrificaste tua biografia em função da democracia precária, que enfim estiolou-se nas mãos desses bananas criminosos, FHC e Lula, que tudo tinham para salvar o País e o enterraram às gargalhadas. Agora dizem que, com, tua morte, tudo acabou. Não acabou não, Brizola. Está só no começo.

TRAIÇÃO - Depois vem o Ciro Gomes dizer que foi uma grosseria os trabalhistas chamarem Lula de traidor no velório do Rio. Foi um ato político, mas disso nada entende Ciro Gomes, que foi apoiado por Brizola nas eleições para presidente e hoje faz parte dessa tragédia federal como ministro. Então não vimos o próprio Ciro prometer, messiânico, que os flagelados pela incúria política que destruiu a barragem na Paraíba serão ressarcidos cem por cento. Como, cem por cento, ministro? E os cinco mortos, serão ressucitados? Esses crimes não podem ser perdoados, porque esses sujeitos continuam com a desfaçatez de sempre. Um samba nunca foi tão justo, Brizola. O samba que diz para Lula e seus asseclas sinistros, os mesmos que são flagrados com monstros corruptos em seus gabinetes: ?Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão?. Hoje vemos aquelas imagens em que, de peito aberto, apoiavas Lula e ele sempre de olho virado, de cara amarrada, como se fosse o rei da cocada preta e tu, Brizola, apenas um mandalhete da biografia dele. Pois vemos como ele é horrendo na sua caratonha, na sua desfaçatez mentirosa. Foi expulso do velório no Rio e voou para onde? Para os Estados Unidos, claro. Foi lá atrás de papel pintado. Hoje tudo é financiado pelos dólares da dívida que cresce até não poder mais. Bolsa família, qualquer coisa, é financiada com empréstimos estrangeiros. Para onde vão os bilhões arrancados ao suor do povo? As autoridades suíças parecem que tem a resposta. Pois levam tudo, Brizola, de merenda escolar a fio elétrico. Não deixam nada. O crime organizado está no poder em todos os lugares. Por que? Porque somos medrosos, Brizola, não estamos à altura da tua coragem. Nos ensinam a não reagir, a dizer sim a toda espécie de violência. Perdemos um Vietnã (americano) por ano. Por isso te enterraram em vida, Brizola. Para levar tudo com eles, pois odeiam o Brasil, acham que o povo é incompetente, e quem ama o povo é xingado de populista.

POVO - Vi, Brizola, como alguns professores universitários enriqueceram te chamando de populista. Inventaram que eras o passado, ultra-passado, que fazias parte de uma elite política que enganava o povo e que o bom era o operário Lula, que falava grosso contra a ditadura. Vimos o franguinho que ele é hoje, Brizola, enquanto tu cresce como homem do povo, que veio do nada e que cresceu porque se esforçou, estudou, venceu. Nunca tiveste orgulho dos teus limites, Brizola, foste atrás, e lutaste por teus ideais. Vieste de longe, querido amigo, não só do Sul, como costumam insistir (como se fôssemos uma piada geográfica), mas do povo brasileiro, e eras o seu legítimo líder e representante. Por que conseguiste esse feito? Porque és filho da Era Vargas, Brizola, porque era possível ser do povo e ter dignidade naquela época. Foi isso que destruíram. Agora concentram cada vez mais riqueza nas mãos, fecham-se em palácios de corrupção e deixam as ruas entregues à bandidagem. É isso que colhemos enquanto és velado no nosso Rio Grande do Sul, companheiro, líder, patriota. Nosso coração está ao teu lado agora. Ele fica fora do teu túmulo, ao lado da bagagem que nos deixas como herança. Vamos te enterrar em São Borja, companheiro morto. Mas vamos pegar tua herança nas mãos: o Brasil que levaste embora para o exílio, que nos trouxeste de volta e não soubemos enxergar. Agora somos obrigados a juntar as mãos e carregar esse ilustre presente, companheiro. Vamos abri-lo e ver como fomos tão profundamente derrotados. Precisaste morrer para que nos voltasse a coragem. Não precisavas morrer sem ver teus compatriotas assumirem o País perdido. Mas parece ser esse o destino dos heróis. Eles não conseguem ficar vivos até o momento em que o amanhecer da nação deita seus primeiros raios de liberdade. Eles partem, mas deixam conosco a vida que não merecemos viver, mas que somos obrigados a assumir. Como lembra meu irmão Elo, estudante do segundo ano da engenharia em 1961, testemunha e participante da Legalidade, emocionado com tua morte, aqueles versos do exílio: "Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá". Não permita, Deus. Não permita, querido comandante. Sem que eu volte para o Brasil. Sem uma nação, sumiremos para sempre do mapa.

RETORNO - "Parabéns digo eu pelos belíssimos textos sobre Brizola. Já repassei a vários amigos." Francisco Karam, (coordenador do Jornalismo da UFSC, curso vencedor do prêmio Luiz Beltrão, o que significa destaque como instituição paradigmática)."Vou ler o resto do teu texto sobre o Brizola em casa, com calma e reverência. O pouco que consegui ler agora foi o suficiente para me identificar e emocionar. Só uma alma lavada na sanga e secada ao minuano pode contar para o Brasil quem é o Brizola. O resto é mistificação mal-intencionada, como continuam fazendo com o Jango." Edir E. Arioli."Pena que o Brizola nao se tornou presidente em vida, mas eu coloco a faixa presidencial na representaçao que ficarah na nossa memoria." Helcio Toth. "O nei, agora entendi o porquê de vc querer que eu fizesse os chão de fábrica lá na fiesp! Tu és um trabalhista convicto!" Marcelo Min

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