5 de junho de 2004

DITADURA DEMITE KAJURU


O jornalista Jorge Kajuru meteu a mão no vespeiro: denunciou o esquema de favores do candidato a presidente Aécio Neves - o fraco governador que acaba de chamar tropas federais para resolver um problema de segurança que ele foi incapaz de peitar -no jogo das eliminatórias da seleção brasileira em Belo Horizonte. Foi cassado no ar. É assim que funcionam as ditaduras: escolhem o próximo presidente com antecedência e arrasam quem se colocar no caminho.

QUALIDADES - Acho Kajuru pentelho e obsessivo, que gosta de dizer como é sincero. São qualidades dele, insuportáveis por mais de dez minutos, especialmente para quem está acostumado a ser interrompido a cada cinco minutos por alguma ladainha publicitária. Além de entregar a quantidade de otoridades que entravam de graça no Mineirão enquanto o torcedor era obrigado a enfrentar cambistas com bilhetes vendidos a 400 reais, Kajuru meteu o pau no Roberto Teixeira, que estava obrigando os jornalistas a usarem, no crachá, uma fita com o nome do atual e eterno presidente da CBF. Os jornalistas esportivos como Kajuru, Trajano e Kfouri são os mais combativos da imprensa. Fazem parte de uma raça que jamais vai se extinguir, por mais ditadura que venha, pois são a essência desta profissão. A campanha que fazem contra os desmandos do esporte é lapidar. A CBF entreguista internacionalizou o futebol brasileiro para acabar com ele. Não existe mais craques no país: todo craque que surge, seja em qualquer lugar ou categoria, é imediatamente levado para o Exterior. Lá, é tratado como ex-favelado que teve sua chance na Europa. Passa-se por cima de que temos vastos estádios, gigantescas torcidas e muito dinheiro rolando, que é desviado das suas verdadeiras tarefas, que seria incrementar as divisões de base, arrumar os estádios, reconstruí-los, construir outros. Esporte não se faz sozinho. É preciso políticas públicas de alimentação e incentivo. Isso existia no Brasil. Agora só em Cuba, entre os países pobres.

ELEIÇÕES - O que temos é ditadura pura e simples. Destruíram a música brasileira e a literatura hoje caminha por uma senda de frescuras. As exceções são jogadas de lado. Onde estão os prêmios para os principais romancistas do país em atividade, Moacir Japiassu e Mino Carta? Neles, as palavras são graníticas, ou seja, são ancoradas em vida plena, e não invencionices ditas em tom cretino, com articulação de patotinha. Onde estão as oportunidades editoriais para autores ocultos como Marco Celso Viola e Fabio Murakawa? Tudo faz parte dessa ditadura civil que nos pune. A solução é lutar pelo resgate da História brasileira, e ajudar o trabalhismo a vencer as próximas eleições, municipais e presidenciais. É preciso resgatar o ponto em que fomos interrompidos em 1964. É o único jeito de varrer esta canalha e impor-se soberanamente. Só assim teremos o talento de volta. Pois o talento desmoraliza o poder fajuto das ditaduras. O talento é o que há de mais perigoso. Custaram a sufocar o talento. Mas ele está vivo. Usando uma metáfora de Leonel Brizola, sempre lúcido e atuante, é como "brasa dormida que os ventos da abertura vão reacendendo". Agora, a abertura somos nós que fazemos. Diga a verdade. Se te tirarem do ar, insista. Lute para Kajuru, o insuportável, voltar.

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