7 de julho de 2024

RESPIRAR

 Nei Duclós 


Leve uns versos para viagem. Não são para ler, mas para respirar.


Posso te tocar? Se deixares, me tocarás.


Te quero tanto que te pus no bolso. De vez em quando tiro para ver teu rosto. É idêntico ao presente que me deste, um doce.


Tudo é para ti, essa arte que extraí do meu silêncio, melodia que compus contigo dentro.


Não domino mais o curso dos versos que lancei ao mar. Eles aportam em ilhas do teu olhar.


Reserva um tempo para outras coisas, disseram. Eu reservo. Mas o amor é como criança, sempre se mete no meio.


A liberdade é uma prisão sem ti.


Passei rápido por você. Deixei a seus pés, como sempre, tudo o que sou, nessa passagem.


Preciso me atualizar. Vou ler tuas páginas.


Dividi a cama contigo. Te amontoaste em busca de abrigo. Depois partiste porque estavas perdida. Mas deixaste tua blusa cinza, para vir pegar em seguida.


Sabe quem te ligou? Alguém. Não disse o nome, só chorou um pouquinho.


Preciso de um coração novinho, disse ela. Aquele perdi, quando me deste o fora.


Você não cansa disso? perguntaram. Sim, mas quando descanso volta tudo, disse ele.


Meu tempo livre está preso em teu vestido.


Cultivei o correio. Reguei o endereço. Fui entregue de manhã, quando ainda estavas com sono.


Esqueci o que ia dizer. Acho que foi essa luz. Fecha um pouco os olhos para ver se eu lembro


Lês o poema que escrevi no papel em branco do coração.


Expliquei mecânica quântica naquela tarde em teu quarto. Meu toque era partícula e onda ao mesmo tempo.


Serei como um espírito. Puxarei pelo teu pé até ouvir teu grito. Aí te trarei para perto como se faz com uma flor tonta de suspiros


Pedes colo trazendo teu cheiro e teu coração ofegante para perto do meu rosto. Morro em ti, tesouro.


Nei Duclós

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