Nei Duclós
Chamam sedentário quem não sai de casa
Preso a rotinas de sufoco
Mal sabem que o Tempo nunca é o mesmo
E nele trafegamos sem retorno
Nenhuma terça-feira se equipara
Ao acúmulo de memória nesse dia
Ela inaugura, esse é o seu costume
Também não tentamos ser idênticos
Ao que fomos na última quarentena
Conversa, costumam dizer
Você só justifica sua preguiça
Vá passear, seja um contemporâneo
E não esse arremedo de pontífice
Pode ser, admito, mas lembro
que cruzei o pampa de carona
E trabalhei em jaulas de leões
Em muitos anos de puro atrevimento
No veloz rodízio dos peões
E hoje, fixo, pensativo
Assistindo todos os assuntos
Não troco meu sedentarismo
Pela conquista do Himalaia
Moro no solar da poesia
Onde o Tempo chega de viagem
E descansa perto de uma praia
sabendo que ainda continua
Como as árvores com raízes e seus frutos
Que não saem do pomar da fantasia
mas acenam para os anjos que o convidam
Para a vida em qualquer procedimento
Nei Duclós
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