Nei Duclós
Nada pode o poema contra a bomba
O verso não impede a ação do fogo
Soneto não resgata a esperança
Talento não cicatriza os pontos
A inspiração foi posta fora de alcance
Literatura não serve de consolo
Profecias são tragadas pelo incêndio
Abaixo do chão, roemos as raízes
De uma danação de loucos testamentos
Não faz falta a canção amiga
Só existe o show da indiferença
Os anjos que sopravam poesia
No ouvido de quem acreditava
No poder da palavra ainda viva
Estão hoje todos ocupados
Em salvar o que sobra do destino
Tudo queima, as cidades, a mata e o Atlântico
O mar sofre a crise de confiança
A justiça foi chutada para o lixo
Não me peça estrofes sorridentes
Nem me cobre por não fazer denúncia
Sou da massa de sobreviventes
Guardo na memória um novo tempo
Promessa que não se realiza
Mas espera no ventre o que se cumpre
Nei Duclós
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