Nei Duclós
Cego, o
capitão Fausto Consolo (Vittorio Gasman, gênio) procura enxergar com os outros
sentidos. O cheiro lhe informa sobre a presença da mulher, o paladar é a
libação permanente do seu amargor, a audição lhe revela seus pares, os outros
cegos a vibrar no chão as bengalas, o tato são as mãos que servem para
servir-se do seu ajudante, o jovem recruta (Alessandro Momo, que morreu logo
depois num acidente de moto) convocado para acompanhar o capitão de Turim a Nápoles,
e também para ler o destino na mão da amada (Agostina Belli, lidíssima) , que o
cego rejeita por não se sentir merecedor do amor que ela lhe devota.
Perfume de Mulher é um filme
sobre as mãos. A mão direita está substituída por uma prótese, as mãos dos
apertos solidários caem no vazio porque o capitão não vê, os tapas são para
reafirmar a virilidade perdida em rostos desconhecidos e bater no pobre rapaz que
o acompanha. As mãos servem para o abençoar, quando o primo padre atende seu
pedido antes da viagem fatal, em que irá cometer um assassinato. Sem a visão,
as mãos mostram toda a sua precariedade, o olfato é apenas um recurso sexual, o
gosto se perde pelo excesso de bebida e a audição detecta pequenos gestos ao
seu redor, mas e insuficiente para mostrar toda a grandeza e complexidade das
situações.
Os sentidos
restantes enlouquecem quando falta a visão, que é o fundamento do cinema. O capitão
não enxerga, isso só é reservado aos que o acompanham. E ao espectador, nós,
que vemos o drama do homem que perde sua pose e tem a sorte de contar com o
amor para lhe dar o verdadeiro sentido da vida.
Grande
filme,de 1974. O genial diretor Dino Risi ganhou Cannes em 1975, assim como
Gassman. Ok, tem a refilmagem de 1992 com Al Pacino que todos preferem, mas não
dá para comparar com essa obra italiana da Sétima Arte. Não discuto gosto,
apenas coloco minha percepção na roda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário