Nei Duclós
No meu livro
TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO (Edição do Autor, 161 pgs., R$ 30) natureza e
nação se complementam em várias cenas da narrativa. A começar pela ligação
profunda do casal Pedro e Leopoldina, exímios cavaleiros que viviam enfurnados
nas matas ao redor do Rio de Janeiro. Com apoio, entre outras fontes, de R. Walsh de Noticias do Brasil e Maria
Graham em suas memórias, coloquei nas falas dos personagens várias descrições
da fauna, da flora e do ambiente brasileiro. Há ainda a realidade do pampa
visto por Dom Pedro II, pelo lanceiro Fabião e sua segunda esposa.
Um trecho
importante é sobre o general holandês Dirk Van Hogendorp, conselheiro de D.
Pedro I que se exilou num sitio do Corcovado no Rio depois de passar a vida lutando
ao lado de Napoleão. Lá ele produzia alimentos que vendia no mercado. Há ainda a fuga de Denise pelos ermos no Brasil como combatente da coluna Prestes e sua luta pela sobrevivência em território abandonado e hostil. Os protagonistas
assim circulam pela natureza em cada página no romance, revelando aspectos do Brasil que foi à guerra
envolvendo líderes e soldados que tinham grande intimidade com o ambiente
natural.
No século
19, o naturalismo fazia parte das políticas públicas do Império brasileiro. Era
preciso conhecer a floresta para descobrir seus recursos naturais e encontrar a
melhor forma de aproveitá-lo. Existia uma espécie de consciência ambiental,
capitaneada por ilustres personagens como José Bonifácio de Andrada. O livro de
José Augusto Pádua, “Um sopro de destruição: pensamento político e crítica
ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Jorge Zahar Editor, 2002” é uma
fonte generosa de informações sobre essa realidade.
Segundo
Pádua, as informações sobre a natureza brasileira começaram a ser divulgadas no
início da colonização por viajantes, cronistas e religiosos, como Fernão Carim,
Gavriel Soares de Souza e Pero Gandavo. Em 1801 o príncipe Dom João deu
instruções para o aumento do Real Jardim Botânico pedindo a colaboração dos
administradores da Bahia para a publicação de uma “Flora Completa e Geral do
Brasil”. Em 1812, Dom João baixou uma determinação régia que estabelecia uma
cadeira de história natural em todas as captais, destacando o ensino de
conteúdos relacionados à botânica, zoologia, química e mineralogia.
As expedições
para o interior do Brasil estimuladas pelo poder imperial, perdiam seu caráter militar
ou geopolítico para se tornar cada vez mais “filosóficas”, isto é, científicas,
voltadas para o conhecimento objetivo do que a terra expunha em todos os
quadrantes da pátria. Merece destaque as viagens do biólogo George Freyreiss,
do príncipe Maximiliano de Wied-Nuwied, a expedição Langsdorff e a chamada
Missão Austriaca (1817 – 1820), com participação do médico e naturalista Carl
Von Marttius e do zoólogo palentólogo
Johann Von Spix.
Um crítico
ambiental do século 19 foi Antonio Moniz de Souza, que alertava: “Sem o reino
vegetal nada existira sobre a terra”. Ele era conhecido como o Homem da
Natureza Brasileira. Nasceu em 1782 na Bahia numa família de agricultores,
tendo sido vaqueiro, capitão de ordenanças até entrar em contato com o grande
naturalista frei José Mariano da Conceição Velloso. Fez várias viagens pelo
interior do país com pequena ajuda de subscrições de quem o apoiava em seus
estudos. Eram recursos escassos comparados às expedições estrangeiras, de alto
custo.
Os viajantes
estrangeiros interessados na nossa flora e fauna aqui aportaram sendo recebidos
com pompa pelo império. Nem sempre se comportaram à altura dos seus hospedeiros,
pois carregaram toneladas de exemplares sem dar retorno ao que o Brasil lhes
proporcionou em apoio. Havia a tendência mística de ver na natureza o perfil da
nação continente, o que faz parte dos vetores que a tradição impôs à ciência
nascente do naturalismo e da ecologia. Nossos heróis catarinenses se desvincularam
de todos esses apêndices, pois mergulharam fundo no aspecto cientifico de suas
abordagens e isso é que lhes dá perenidade em suas obras.
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