Nei Duclós
Siga o verso que te atinge. Nascido
em qualquer fonte, em qualquer dia.
Nada importa, apenas nossa sintonia.
O carinho e tua graça.Lindaça.
Navego em teu arrepio a distância. É
como se fôssemos grude num barco em movimento.
Olhando em torno, não vejo mais
ninguém. A não ser o encontro que ainda não marcamos.
Venho a campo com bandeira. Nela
escrevi teu poema.
Ponho na janela os versos que são
para ti. Depois mostro a origem, teu rosto em meu espírito.
Me deixas só, depois da leitura.
Volto à origem, minha fantasia
Te vejo no colo de alguém. Não
consigo te perdoar, abraço de nenhum lugar.
Estavas de tocaia na paisagem
deserta. Pisei na flor por acaso. Mas ela grudou na roupa com seu poder de
perfume. Agora durmo ouvindo o arrulho que me sopras, ferida.
Toda essa boniteza mela o poema
Leitura muda que vibra. Mexes em
redemoinho sobre o poema.
Cama dividida entre acordos
precários. Gritas quando atinjo o alvo.
Teu perfil de horizonte exibe
colinas de glória. Percorro cada milímetro do que teces no mistério.
Sentes que estamos no mesmo barco,
algodão doce em mar sem memória. Juntos agora, na eternidade.
Nada faz sentido, mas que importa?
Ouço teus guizos, por pura sorte.
Corpo é o que adivinhas quando me
jogo nas nuvens. Sentes o impacto do granizo produzido pelo destino.
Nasci no fim do inverno, quando
florescias a distância. Te encontrei tardia, estrela Dalva.
Não são versos nem frases. É só o
amor aprendendo a falar.
ESTUDEI VOCÊ
Extraí a crua beleza de grutas
ocultas além das montanhas. Quis te mostrar, mas me vi em andrajos, com o corpo
entregue entre espinhos. Me enviaste a chuva, flor inverossímel, porque me
viste pelo espelho que tens entre as palavras..
Fiz canções desarrumadas, que canto
nos intervalos do silêncio cultivado em jardins suspensos Seio que me escutas,
fada.
Cruzei muitas vidas sem encontrar
água. Me transformei nas pedras da paisagem. Mas vieste de trem, em plena
alvorada.
Comecei uma nova série de trabalhos
no ateliê de barro. Faltou alma para algumas esculturas, pássaros que te
acompanham e ainda não abriram as asas. Mas teu rosto está pronto, marcado em
meu coração de palha.
Estudei você. Mas não me sinto
preparado. Acho que repito de ano, matéria de sonho.
ESTROFES
Não precisas de amor
porque tens de sobra
Mas assim mesmo te amo
porque esta é a obra
porque tens de sobra
Mas assim mesmo te amo
porque esta é a obra
Pareces de trança, em foto antiga.
Mas são só sardas, em imagens vivas.
Te pego na curva, com teu vestido.
Toda de versos tecida
Mas são só sardas, em imagens vivas.
Te pego na curva, com teu vestido.
Toda de versos tecida
FRIEZA
Tua frieza não me incomoda mais.
Estou livre desse compromisso. Que alívio.
Acumulei tempo, desperdicei vida.
Deixei rastro, a poesia.
Digo o que os espíritos me sopram. Qualquer coisa, cobre
deles.
Ser marginalizado é um status. É uma
maneira cult de ser incluído. Mas ser marginalizado mesmo, sem essa pose, é não
dispor de espaço nenhum
Ser ignorado é quando não te incluem
nem entre os ignorados.
Impiedade é teu passatempo. Ignoras
por esporte. Jogas pesado, sorrindo.
Poesia é liberdade. Inclui a
liberdade de não ser poesia?
Nei Duclós