Páginas

22 de junho de 2014

SIGA O VERSO



Nei Duclós

Siga o verso que te atinge. Nascido em qualquer fonte, em qualquer dia.

Nada importa, apenas nossa sintonia. O carinho e tua graça.Lindaça.

Navego em teu arrepio a distância. É como se fôssemos grude num barco em movimento.

Olhando em torno, não vejo mais ninguém. A não ser o encontro que ainda não marcamos.

Venho a campo com bandeira. Nela escrevi teu poema.

Ponho na janela os versos que são para ti. Depois mostro a origem, teu rosto em meu espírito.

Me deixas só, depois da leitura. Volto à origem, minha fantasia

Te vejo no colo de alguém. Não consigo te perdoar, abraço de nenhum lugar.

Estavas de tocaia na paisagem deserta. Pisei na flor por acaso. Mas ela grudou na roupa com seu poder de perfume. Agora durmo ouvindo o arrulho que me sopras, ferida.

Toda essa boniteza mela o poema

Leitura muda que vibra. Mexes em redemoinho sobre o poema.

Cama dividida entre acordos precários. Gritas quando atinjo o alvo.

Teu perfil de horizonte exibe colinas de glória. Percorro cada milímetro do que teces no mistério.

Sentes que estamos no mesmo barco, algodão doce em mar sem memória. Juntos agora, na eternidade.

Nada faz sentido, mas que importa? Ouço teus guizos, por pura sorte.

Corpo é o que adivinhas quando me jogo nas nuvens. Sentes o impacto do granizo produzido pelo destino.

Nasci no fim do inverno, quando florescias a distância. Te encontrei tardia, estrela Dalva.

Não são versos nem frases. É só o amor aprendendo a falar.

ESTUDEI VOCÊ

Extraí a crua beleza de grutas ocultas além das montanhas. Quis te mostrar, mas me vi em andrajos, com o corpo entregue entre espinhos. Me enviaste a chuva, flor inverossímel, porque me viste pelo espelho que tens entre as palavras..

Fiz canções desarrumadas, que canto nos intervalos do silêncio cultivado em jardins suspensos Seio que me escutas, fada.

Cruzei muitas vidas sem encontrar água. Me transformei nas pedras da paisagem. Mas vieste de trem, em plena alvorada.

Comecei uma nova série de trabalhos no ateliê de barro. Faltou alma para algumas esculturas, pássaros que te acompanham e ainda não abriram as asas. Mas teu rosto está pronto, marcado em meu coração de palha.

Estudei você. Mas não me sinto preparado. Acho que repito de ano, matéria de sonho.


ESTROFES

Não precisas de amor
porque tens de sobra
Mas assim mesmo te amo
porque esta é a obra

Pareces de trança, em foto antiga.
Mas são só sardas, em imagens vivas.
Te pego na curva, com teu vestido.
Toda de versos tecida


FRIEZA

Tua frieza não me incomoda mais. Estou livre desse compromisso. Que alívio.

Acumulei tempo, desperdicei vida. Deixei rastro, a poesia.

Digo o que os espíritos me sopram. Qualquer coisa, cobre deles.

Ser marginalizado é um status. É uma maneira cult de ser incluído. Mas ser marginalizado mesmo, sem essa pose, é não dispor de espaço nenhum

Ser ignorado é quando não te incluem nem entre os ignorados.

Impiedade é teu passatempo. Ignoras por esporte. Jogas pesado, sorrindo.

Poesia é liberdade. Inclui a liberdade de não ser poesia?

Nei Duclós