20 de maio de 2014

RETIRO



Nei Duclós

Imagine a transgressão
para que o corpo vibre
Pouse na incerta razão
entre o espaço híbrido  
além da espessa rotina
e a sintonia do convívio.
O real que te convida

Não importa se eu minto.
A verdade é o que eu sinto.
Esse sonho bruto inserido
no barro que me define.
O que eu digo passa. Fica
o segredo que não divido
para me manter ileso

Não perco o rodízio
das vogais em fila, lenços
que acenam de um feriado
quando os navios partem
para o exílio. Recito orações
que invento no concerto
mantido em grave retiro

Poema é pássaro no levante
em revoada coletiva, canto
combinado e repetitivo
como gotas em teto de zinco
algaravia bem vinda no ouvido
reprimido pelo choro.
Palavra é livre, reparto contigo


RETORNO - Imagem: obra de George Bellows.