Nei Duclós
Os dentes na tocaia, as nuvens de tormenta
redes que são árvores, as conchas no levante
animais que morrem cedo, a roça das estrelas
o céu fazendo festa, as folhagens secas
O clima sem conforto, as montanhas de gelo
o rosto que se guarda, a alma morta em pelo
as trilhas que se arrumam, a voz de eco surdo
penhascos e açucenas, semente posta em fendas
O tempo em seu enigma, planetas que não giram
histórias sob as pedras, arrulhos de silêncio
choro de rebentos, o sonho em ritmo lento
sonoras coincidências, desperdício de poemas
Universo que se basta, Deus deitou-se cedo
paz de liberdade, pensar conforme enxergo
livrar-se do sossego, hábitos em varandas
espadas que se batem em guerras de fronteira
Soberba indiferença, o cosmo no começo
dormir sem ter igreja, comer fora do teto
saber-se sem roteiro, morrer é para sempre
a vida um só instante, herói não tem remorso
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Briton Rivière.