20 de março de 2014

AGUARDO O VENTO



Nei Duclós

Sou menos do que escrevo. És mais do que te leio.

Aguardo o vento prometido, vindo de uma porção leste do teu conflito.

O amor é um lenço que deixas cair porque perdeste a pista das lágrimas. Alguém colhe do chão e te alcança, para que chores de novo.

Pisas no coração alheio por ser fiel a ti mesma. Solidão que cobra a conta enquanto o tempo te observa, princesa.

Pensei em te querer, mas talvez na outra vida. Por enquanto somos apenas folhas soltas no outono que se anuncia.

Nos movemos na cultura, no acervo, não na ruptura do verbo. Resgato cenas para podermos nos sintonizar na mesma melodia.

Tão bonita que sinto pena pela perda de tempo. Havia mundo antes de te conhecer?

Vives de poesia, pão que sempre te falta por mais que sirvas. O único sustento são os olhos de quem escuta teu som de veludo

O desamor arma a calúnia. Não finja entrega quando sua intenção é ferir no momento em que atrai a doçura.

O amor nos faz falar a verdade.

Não me aproximo para o mundo permanecer intacto, detonadora de fôlego

Achas que me repito quando digo o que não cala. Não faço exercícios antes de navegar em tuas águas.

Ligamos na tomada. Não precisava, já tínhamos eletricidade.

O amor, paguei caro. O adeus foi de presente.

Provocas fazendo cara de paisagem. Desconversas quando a avalanche desperta. Dás dura porque nada tens a ver com isso. Por dentro gargalhas, deliciosa. Finges não ter noção, arraso de comportas..

Delicada presença, inaugura o mundo terno. Prudência da beleza, vocação de espanto.
Doçura compartilhada, visão suprema. Lembro quando vejo a comunhão de um cosmo livre de tormentos.

Rodeada por quem te admira, amigos, família, tens uma falta mordendo como isca. É a lembrança daquele dia em que fizemos arte.

A cama vazia suspensa na imaginação em ambiente cinza. A espera de um raio de luz, que nem vem da manhã, mas da tua alegria.

Células que se avizinham, tocam paredes permeáveis, se modificam e criam algo mais denso, o sentimento tomando forma na neblina.

Essa amizade em direção à planície. A fonte da montanha que se adapta como rio. Esse toque profundo como se nada existisse. Esse enigma, o amor que não é dito.

Mergulhas nas águas infinitas do teu dia. Eu fico só na superfície. Não atino respirar onde realmente vives.

O trapezista tirou a bailarina para dançar. Equilibrismo no arame virtual da poesia.

Liberei o sonho dos compromissos. Ele foi atrás de ti, omissa.

Me descubra por baixo do pano. Sou o saltimbanco ainda se preparando. Leve embora o script que eu improviso.

Não me deixe com os braços vazios. Nem o mar caberá nesse vale sombrio.

Nem o mísero sol te compensa, beleza posta em glória. Te bastas com esse ar de vitória.

PLANTA SEM SERVENTIA

Tirei férias de mim. Volto quando voltar.

Meu gesto não faz parte da biografia. Ele está solto, como planta sem serventia, que medra no penhasco diante do mar em fúria.

Fui deixado para trás, por prudência. Preferiram o centro do salão enquanto eu compunha, anônimo, a próxima sinfonia.

Perdi tantas vezes que acabei em ganho. Reduzi o espaço da desesperança.

Não me diga quando não escutas. Não se ache quando te procuro.

Meu desejo é quando consentes. Fora disso, impera a distãncia.

Água fria contamina o clima. Mas serve, para evitar o drama.

Os laços são os que criamos no convívio, seja ele qual for.

Viajei para a remota constelação de origem, lá onde funciona a forja do céu noturno.

Sou o que sinto e falo e não o que diz o registro. Somos criaturas em permanente batismo.

O que fizeste da vida? Fizeste a ti mesmo. És tua própria obra que deixarás de herança
para a memória