Nei Duclós
O tempo tudo lava
com sua língua
Fica a ferida
lambendo o vidro
Fica o sangue
que não cicatriza
espirrando fogo
entre as cortinas
O tempo tudo cava
com suas víboras
para criar no caos
um abrigo
O que não se explica
é esta faca em teu sorriso
A traição na hora
do sacrifício
RETORNO - 1. Poema do livro No Mar, Veremos, ed. Globo, 2001. 2. Imagem desta edição: obra de Edward Hoopper.