Nei Duclós
Tirar o chapéu é sinal de admiração. Segurá-lo com as mãos
numa corrida é para provocar riso, como acontecia nas antigas comédias, de
Chaplin e Keaton a Oscarito e Grande Otelo (que ao fugir seguravam seus chapéus
de marinheiro em Aviso aos Navegantes). O chapéu pode cair no momento em que o
palhaço perde o equilíbrio ao dar um drible de corpo ou mudar bruscamente de
direção. Seu esforço de manter a normalidade, conseguir que o chapéu fique
plantado na cabeça enquanto acerta o passo atrapalhado e rápido, é engraçado. Descobri
isso de tanto ver comédia antiga na TV a cabo.
Vemos como Oliver Hardy mexe com o chapéu quando está
confuso ou furioso. Como se enterra o chapéu na cabeça alheia para ir à forra.
Como se experimenta vários tipos de chapéu que provocam uma situação engraçada
pelo contraponto ente o objeto e o corpo franzino ou avantajado do ator. Como
as pessoas iradas pulam em cima do próprio chapéu para descontar alguma birra.
Como é engraçada a tentativa de ser nobre do vagabundo Chaplin ao cumprimentar
damas e cavalheiros com seu chapeuzinho coco. É como é encantador seu gesto cavalheiresco
com o chapéu em direção a uma pretendente.
O chapéu é parte fundamental do design de um comediante. Não
imaginaríamos Chaplin só de bengala, grandes sapatões e terno apertado. Ou O
Gordo e o Magro sem seus complementos no alto da cabeça. O chapéu malandro de Chico,
um dos irmãos Marx. O gesto de recuperar a dignidade passando a manga do casaco
no chapéu recém retirado da poeira. O chapéu devolvido todo amassado por um
safado com cara de paisagem para um interlocutor furioso. O chapéu palhinha de
Harold Lloyd. O chapéu de abas curtas e bem no cocoruto, no alto da cabeça, do
mexicano Cantinflas, contrapondo-se aos sombreros locais. O cxhapéu enorme todo
enterrado na cabeça de Woody Allen quando está dirigindo.
Chapéu é comédia, entre muitas outras coisas. Gosto de
chapéu.