Nei Duclós
Não quero pensar em ti quando faço poesia. Todos enxergam o
rosto que jamais me fita.
Nenhum segredo te decifra, feminina. Charada de sonho em
pelo.
Tua graça é uma concessão da tua inteligência. Me derrubas
enquanto tudo compreendes.
Estavas presa na manga, sem saber o motivo. Era ainda o
amor, que Deus nos livre.
Não sabia quem eu era quando acordei depois de perder os
sentidos. Foi a chance de encarnar o que não é dito.
Caí em ti, quando dei por mim.
A solidão imagina, o amor povoa.
Eras um amor à espera. Tropecei nas folhas que deixaste em
armadilha. Rias, quando caí em teus redutos.
Depositei a dor na curva do caminho. Segui adiante,
contornando o abismo.
Todo dia é a mesma coisa. A palavra no centro de tudo.
Achas que sabes ler o que me imprime. Mas sou criptografado,
criptonita.
Divides o espólio que construímos com alguém que não existe.
Só para mostrar que se vinga. Perdoa sem fazer ruído, exagero de suspiros.
PITACOS TUÍTICOS
Não é verdade, disse o desmentido.
Se sou daquela época, o que faço aqui? Sobrevivi, ruínas de
mim
Velhos são recentes. O tempo é mais antigo. Chega de
memórias precoces, de saudades de cinco minutos atrás. O mundo perdido é o
grande susto
Trazemos certas habilidades de outras vidas. É uma espécie
de contrabando genético.
A realidade extrapola os limites das análises. Toda tese é
furada. As exceções em excesso inviabilizam as sínteses. Inclusive esta.
Quando você não tem nada a dizer, escute.
Há um jeito fácil de desistir dos sonhos. Acordar.
Três garotas querem conversar com você. São da polícia.
O que chamas de fatos é apenas a versão medíocre do que me
provocou assombro.
Palavras também morrem e são enterradas. Nas suas lápides
medram fungos.Em compensação inventam outras, natimortas. Como tripartite
Não se usam mais algumas palavras. Como acolá, por exemplo.
Que fim deu o acolá? Aqui, ali, acolá.
Gosto muito de gente, disse o cíclope.
Prove que você não é um robô...prove...que não...prove...
que não é...prove
Este jornal não conseguiu localizar as fontes que
viabilizariam a reportagem que acabamos de publicar.
O tempo anda muito rápido. Nem dei conta do século 20 ainda.