23 de junho de 2013

AMOR E PROTESTO



Nei Duclós

Gritávamos amor o tempo todo. Acho que escutaram.

No lado B da reivindicação expus um coração vermelho. Vinhas atrás de mim.

Me empresta teu cartaz? disse ela. É exatamente o que eu penso. Fica com o meu, ainda em branco. Escreva que me ama.

Nos cartazes pusemos tudo o que achamos errado. Nos bilhetes repassados um para o outro tudo o que precisava dar certo.

Escrevemos um romance nos cartazes expostos na caminhada. Começava com naquele dia e terminava com felizes para sempre. Da janela jogavam papel picado.

Vocês não deveriam vir para a rua num dia patriótico só para ficar assim grudados, disse um invejoso. O amor lidera, dissemos a uma só voz.

Fomos tomar um café para fugir do quebra quebra. Foi a primeira vez que ficamos juntos. Choravas de emoção, e não era por obra do gás lacrimogênio.

Apontaste a lente para mim para ler o cartaz que levei na manifestação. Amor agora, eu dizia.

É bizarra essa vontade de te dar um susto, de ser teu suspeito número 1 quando alguém cobre teus olhos pedindo para adivinhar.