17 de dezembro de 2011

LANCE DE ESGRIMA


Nei Duclós

Não digo seu nome. A não ser no momento certo, aos gritos

Você me pergunta, eu respondo. Passei no teste? Você silencia. Então apago a luz e me aprovo à revelia, mas com teu consentimento

Quando estou distraído, você me atinge com um lance de esgrima. Sem proteção, acuso o golpe. Você ri, bandida

Musa é excesso de poesia. Sopro, inundação. Não se economiza musa. Amor é abuso

Falo tudo entre nós como se você fosse outra pessoa. Assim nos preservamos e fazemos amor enquanto a praça está cheia

Deixe de ficar amuada, venha ver o corso, disseram para a guria. Tem príncipe? ela pergunta. Só se tiver príncipe

Encilhei o cavalo na noite alta sem estrelas e passei por tua janela para te pegar. Mas já estavas grudada em mim, neblina

O dia prometia calor intenso. No quiosque, pedimos dois momentos de amor. Serviu-nos a providência. Eros nos expulsou para o apartamento

Chega de ler poesia, disse o patriarca. Desse jeito seremos vitimas de enchente

Tenho medo quando enfim me respondes. Posso estragar tudo. Nem devo ficar em silêncio. Então ameaço fazer um gesto e tropeço, delícia

Peço ajuda do anjo. Tenho antecedentes, ele dá uma força. A palavra brilha e te segura pelos ombros. Consegues chorar, flor do campo

Curto sua imagem, em reconhecimento pelo que me dás. É pouco, mas viajo junto. Acabo fazendo parte dos teus momentos

Vou partir para a terra do crepúsculo. Vá me visitar. Vire uma nuvem

Refaço o rumo, ou esclareço a trilha quando acendes a luz. A que trazes de ti, íntima música

Uma vez por dia, como a estrela guia. Que, como Dalva ou Vésper, são no fundo duas. Fadas entre luz e sombra nas passagens súbitas

Três palavras e está encerrada a visita.Faço delas um navio para cruzar o Atlântico.Viro capitão desse navio de sonho, movido pela lembrança

Cansei com o que fazem do sentimento. Embrulham no balcão e jogam as criaturas no limbo. Prefiro a secura da tua dúvida, amor invisível

Foi só puxar esse paninho que te cobre, floresta

Cansei de sonhar, ela me disse. Vou mudar de estação. Estou saudosa do mundo real. Pode ir, falei. Leva essa porção inútil de coração

Passou muito tempo fora, disse o Poeta chefe. Perdemos quorum. Volte logo e produza choro. Estou feliz demais para isso, disse o funcionário



RETORNO – Imagem desta edição: Vera Miles

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