31 de dezembro de 2011

URGENTE


Nei Duclós

Essa bocarra de batom vermelho na penumbra é o que tinhas para me dizer tão urgente?

Não entendi a necessidade de vir até aqui no mirante onde teu vestido batido pelo vento mostra o que me mata. Talvez um beijo me revele

Já vi tudo. Queres que eu te leve até a porta. Será como da última vez, em que fiquei na chuva? Ou me mostrarás tua coleção de selos?

Pediste para eu ir caminhando um pouco na frente. Não entendo. Poderíamos conversar lado a lado. Mas preferes calar, olho grande

Ela deu boa noite como se fosse um beijo na testa. Mas era só disfarce. Dali a pouco voltou, despertadora em festa

Fui te buscar na saída do banho. Estavas desprevenida. Tiveste que usar minha pele

De frente, coincidindo cada metro cúbico de corpo, dançando ao som dos ruídos que se formam na noite fechada e sobem como labareda

Estamos além do abraço, lá onde mora os sons mais graves da serenata

Agora pensa uma cena perigosa. Eu te salvo. Agora eu penso uma cena perigosa. Eu te salvo

Saltaste sobre mim e achei que iríamos cair. Mas és uma pluma e pousaste em meu colo engatando um beijo pesado

Já passa da meia-noite e teu sapatinho de cristal jaz sob meus olhos como um pássaro ferido

Flutuas na minha frente cavalgando o vento, que é minha mão que vou passando em ti sem cerimônia

O que farei sem você? ela me disse.Primeiro a Minguante,respondi. Precisa de um enxerto de Lua cheia. Depois volto para ti,estrela perfeita

Imploras piedade quando vês que não vou parar. Tinha te avisado, agora é tarde. Acabarás uma poça de água no amanhecer de uma praia distante

Cruzaremos o ano com um fogo estranho nos olhos. Dirão que é ressaca, mas sabemos que é outra coisa, bem pior

O Sr. precisa deixar dessa vida, disse o mensageiro. O eixo da terra poderá ficar ainda mais inclinado

Bem quieta no canto de butuca no alvo. Quem pode contigo, estilingue?



RETORNO - Imagem desta edição: Ursula Andrews

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