5 de dezembro de 2011

PASSAPORTE


Nei Duclós

Quem somos nós? Só o amor nos reconhece e carimba o passaporte. Somos a identidade dessa sorte

O amor é o fôlego da eternidade

Quando pedem um registro mostro para o mundo admirado a imagem de quem sabe repartir a brisa, porque jogou comigo tudo para o alto

Não me deseje nada. Me desejar algo é despedida. Muito prazer: deseje-me apenas

Palavras não pesam. São como esporos na tarde. Só fazem sentido quando se transformam em você e me beijam

Fomos de trem. Estavas quieta como nuvem. Ao chegarmos na estação, agarraste meu braço e colocaste a cabeça em meu ombro. Foi quando nasci

As pessoas são gotas independentes no mesmo mar de desejo. O poema é o que eu sinto, não o que eu vejo

Fomos apresentados na viagem. O destino jogou um pote de açúcar no olhar. Depois trocamos cartas. O amor se consolidou com a palavra mágica, destinatária

Tenha fé no amor. Se for para valer, ele resolve. É o que temos. O que sentimos, independente de quem amamos

Olha esses ombros! disse o admirador. Nus, como vieram ao mundo!

Onde ninguém chega, meu verso chegou. Posto avançado onde foste revistada. Fronteira entre o nada e o calor. Chuvarada

Quem pode com esse toque? Nada, ninguém. Só nós, que conseguimos cruzar o umbral e agarrar o prometido, eu com fogo, tu com as unhas

Tuas palavras minguando, indo para o ralo, sem deixar nada em troca, enquanto me debato com teu acervo em chamas. Invoco tua água para salvar-me

Amor é impraticável sem alegria

Permaneço no vagão quando anunciam a estação da tristeza. Meu destino é outro e espero que você esteja lá, radiante com um dia claro

Esperei a manhã inteira e depois a tarde, que se quebrou ao meio. À noite me encontraste exangue, debaixo do teu olhar ausente, feiticeira


RETORNO - Imagem desta edição: obra de William Bouguereau

Nenhum comentário:

Postar um comentário