20 de dezembro de 2011

VIAJANTE


Nei Duclós

Te vi de relance. O suficiente para notar aquele sinal visível no decote. Pirei ali mesmo, te imaginando em outra. Mas estavas só, viajante

Nunca é a mesma coisa. No ano passado nem sabias da minha existência. Hoje me ignoras, o que é diferente

Passarei a pão e água na ultima cabana antes do deserto. Desertarei de exércitos famintos. Saberei a pó, pastora, mas chegarei a tempo

O amor me cansa, por isso me decidi por outra coisa, disse a confidente. Hoje colho conchas em praias detonadas para fazer um colar de sonhos

Sua fórmula é conhecida, disse o estudioso. São palavras com eco de quando em quando, para seduzir pelo ouvido. Aprendi com as sereias, admiti

Trocamos imagens sedutoras, de notoriedades intensas. Mas é só implicância. Gostamos mesmo é da nossa imperfeição extrema

Balanço do ano: te amo. Amor é quando você me balança

Estou sempre no mesmo lugar à tua espera.Um dia te pego,disse o Tempo. Deixe primeiro passar a caravana,peço.Tenho um particular com a deusa

O amor sussurrou por um segundo e foi além da conta: todos os pássaros subitamente levantaram vôo no meu coração liberto

Tudo é teu, dona. Me tens porque sei o quanto sonha teu corpo com o meu

Sei que te irrito, não consigo evitar. Pode me matar, mas me leva contigo

Escancarar o íntimo é tirar dele toda a intimidade. Resguarde e fale por fábulas, metáforas, parábolas. Use todo o acervo da linguagem

Sou tua propriedade, meu segredo. O amor cercou com muro alto de granito. Lá há um jardim aberto para o sem fim

Mudaste meu coração, ela me disse. Agora não sei se é meu e onde coloco. Em nenhum lugar cabe, a não ser no teu

Tem sido intenso para mim, ela me disse. Fui jogada onde não digo. Venha me ver, se é que tens a pista

Ela deu um tempo no limbo onde vive. De lá de vez em quando joga uma seta de Cupido. Aguenta coração, essa ferida

Sangra o mote da paixão no papel em branco. Espontâneo, o poema se escreve. É ela, pegando da minha mão

Sabes ser musa, meu mistério. Não gastas à toa teus poderes. Viras as costas enquanto adivinho. Acho que ris, mas choras, doçura da minha hora

Tua mensagem me sustenta por anos. Mas só dois dias eu agüento, meu encanto. Me escreva de novo

Estou pensando em ti, depois me mando para outras paragens da lembrança em rede. Todas com tua imagem, sempre


RETORNO – Imagem desta edição: Jane Russell

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