27 de dezembro de 2011

CULTIVO


Nei Duclós

As formas mais perfeitas de vida em todo o cosmo são as joaninhas

O amor é quando a joaninha alça vôo na orquídea que cultivas no teu jardim

Beija-flores e joaninhas seguram a existência do universo na ponta de suas asas

Amor deixa de ser desperdício quando a coragem toma o leme sem machucar a tripulação

Amor desperdiçado no quarto de despejo.Guardado sob o pó de inúmeros laços.Lembrança num cofre de compromissos.Numa branca coleção de vidros

Cediço despertar como palavra antiga, quando havia sol envolto em mercúrio cromo, sangrando em horizontes cheios de esperança

Queria mudar de assunto,mas recebi uma carta sua. Ainda não abri. Espero que meu espírito amadureça. Acho que 5 segundos são suficientes

Também não precisa exagerar, me dizem. Foi só uma gentileza. Sim, mas já sentiram o borrifo do mar às três da tarde no calorão?

Cruzei o mar para resolver a parada mas não estavas lá. Agora faço a viagem de volta de um ponto remoto, do infinito onde o amor me jogou

Entende outra coisa quando falo à toa. Não escuta se falo sério. Pede que eu repita se fiquei calado. Discute a relação quando quero ir embora

Gosto do que dizes quando não aceitas. Quero que me mostre quando não compreendo. Chego a duvidar da minha sorte. Volto melhor a cada beijo

Faço conferência se murmuras algo. Quero convencer que não sou o mesmo. Mas me tens na mira rindo do meu esforço. Te quero assim mesmo, diz

Não resisto ao teu charme, ela disse. Imita de novo aquele ídolo

Vou abandonar minha coleção de selos. Doarei para a caridade o que reuni em décadas de silêncio, recebendo de volta tua correspondência

Não ganho nada com isso. Nem soma na aposentadoria. Amor é ralo aberto na montanha, caindo em forma de cachoeira invisível, véu de noiva chorona



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Gustave Coubert

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