15 de outubro de 2011

POESIA NA NOITE ALTA



Nei Duclós

Morar é escolher um lugar para não ser nada

Você é alguma coisa da porta para fora. Dentro, nos misturamos aos alumínios

Somos irrreconhecíveis quando enfim saímos para o mundo. Onde estiveste? perguntam. Estava no quarfo de badulaques, dizemos

Os pássaros te avisam sobre o tempo transcorrido, mas não prestas atenção. Que horas são? perguntas. É tarde, dizem as árvores

O quintal é tão pequeno que há tempos não existe, mas você insiste em acordar da sesta e procurá-lo. No lugar dele, medrou um dinossauro

Cansamos dos mistérios e queremos uma taça de café mal rompe o dia. Ao nosso lado, no balcão, um casal de anjos

Reencontramos conhecidos mas eles estão desatentos.Sou eu,dizes para as paredes. E elas respondem, ostentando quadros de pintores esquecidos

No canto, todas as medalhas. Valeram pelo momento da outorga. Mas de tudo fica apenas um clarim,que um guarda moço sopra rodeado por sereias

Venha dormir, diz o Destino.Você finge que obedece.Mas na madrugada, abre a janela para o mar e lá está Deus, de rosto imóvel diante do luar

O que me dizes não me fala, diz o indiferente, embrulhado em celofane de prata. Mas teu papel é outro: pardo, desses que abrigam pães

Não serás lembrado, dizem todos. A não ser pelos beija-flores, que aprenderão a cantar com tuas palavras penduradas como estrelas

Chega! avisa o contra-mestre. Pegue sua mochila e suba a bordo. Antes, uma última olhada. As folhas secas vieram se despedir


RETORNO - Paris, França, foto de Daniel Duclós.

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