6 de novembro de 2010

LINGUAGENS ARTIFICIAIS


A língua portuguesa foi assassinada. Era humanista, generalista, aprofundada, completa, humana, brilhante, maravilhosa. No seu lugar foram colocadas inúmeras linguagens artificiais. Não são mais as linguagens cifradas, das profissões tradicionais, quando um advogado ou médico cercava seu ofício com reservas e barreiras ao leigo exercendo um jargão que identificava seu status. Agora são linguagens pretensamente facilitadoras, que compõem um código bizarro, onde misturam a falsa sabedoria, o pragmatismo rastaquera e a falsidade ideológica. Vamos aos exemplos:

JORNALÊS - Existem exemplos diários, um pior que o outro. Usa palavras como “suposto” (fruto da edição Pôncio Pilatos, que lava as mãos e terceiriza tudo para não se envolver) e expressões como “ao menos” (o maior serial killer em atividade, pois a toda hora morre ao menos 30 pessoas). Cria monstros como “expõe que prioriza”, entre outras barbaridades. É resultado do sucateamento de uma profissão perigosa, que peitava o poder e não se deixava levar pela sedução da bandidagem. Uma profissão que morreu. O jornalês é o cogumelo que brota no seu corpo decomposto.

ATENDIMÊS - É a linguagem-carrossel, que recomeça sempre do mesmo ponto, por mais que você tente desviar o rumo para o que realmente interessa, o motivo porque você está ali tentando comprar, reclamar ou sugerir. Você pode recitar os Lusíadas ou dançar um tango argentino para o sujeito do atendimês que ele vai recomeçar com um “então...” no segundo seguinte. O atendimês te ignora, porque para isso foi concebido para que as corporações deitem e rolem em cima de você enquanto entopem o mundo com sua publicidade.

MARQUETÊS
- É a linguagem que pergunta teu nome para fazer dele a âncora da chatice insuportável. Sabe Pedro, então, Pedro, você compra nosso pacote, Pedro e terá que assinar fidelidade por seis anos, Pedro, mas isso passa rápido, Pedro, pois você terá todas as vantagens...Pedro. Se você disser que não está interessado, o marquetês vai exultar de alegria e perguntará quando poderá passar na tua casa para você enfim assinar o contrato que está tentando evitar.

POLITIQUÊS
– É a linguagem que condena imposto na campanha e a primeira coisa que faz, logo que é eleita, é exatamente criar ou resgatar um bom e velho imposto. Não é que sejam falsos, são simplesmente bandidos. Estão acostumados à submissão da cidadania por isso fazem o que querem e bem entendem, pois aproveitam as demandas e carências para engabelar todo mundo e sair lampeiro contando as cédulas que sobram de tudo que é lugar. O politiquês adora dizer saúde e educação. É o troço que mais dá dinheiro.

CORRETÊS
- É exercido pelos caçadores de Lobatos, defensores tardios de tias nastácias, processadores de opositores, afogadores de opiniões, caluniadores profissionais, festeiros da ilegalidade, reescrevedores da História, sabujos melosos, odientos miseráveis e cagadores de regras em geral. Serve para condenar tudo o que você disser para que o butim encha as bocas escancaradas por cargos providenciados pelo sucateamento da cultura, do talento e da arte.


RETORNO - Imagem desta edição: Engenho, obra de Ricky Bols.

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