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19 de janeiro de 2010
UM DIA DE VERÃO
Nei Duclós
É preciso que haja um forro de céu azul com consistência de veludo
Para servir de base ao caminho percorrido pela luz
Sobre ela se assenta a brisa quase imperceptível de janeiro
Que mal toca na folhagem, em frondosa expectativa
Que a evolução do dia obedeça aos princípios sagrados da aurora
Que prometeu e cumpre um roteiro seguro até o entardecer
Que haja sereias e seus inúmeros papéis de celofane roçando ondas
Com formas improvisadas de banho imitando gaivotas
Que a areia nos receba com a consistência de cereais colhidos na lua
E haja alguma sombra, de castanheiras nativas em forma de telhados
Para que possamos estender o corpo sobre a superfície lisa do tempo
A que não nos decepciona com sua sementeira de espantos
E que o poema seja leve diante do horizonte visto da montanha
E da majestade de diamante imposta pela estação da esperança
Porque um dia de verão de verdade é obra de muitos acasos
Que confluem como um delta submerso e que de repente ressurge
No momento incerto em que estávamos perdendo a embocadura
E nos convencíamos que o universo tinha desistido de nós
Que venha o dia do verão depois da exibição tardia do arco-íris
E nos salve ao jogar no mar a pele acostumada às cicatrizes
Essa abóbada de amor que toma conta dos quadrantes e depois some
É uma advertência contra nossa eterna vontade de fugir
Entregue-se para a manifestação de gala da natureza ainda viva
Baile onde os pares são os sentimentos cultivados num sorriso
Dance meu amor na festa inesperada e perca-se de tanta ventura
Porque o verão passa como um bloco de rua despertando o paraíso
RETORNO - Imagem para este poema: foto de Juliana Duclós.
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