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31 de janeiro de 2010
O QUE É A NATUREZA?
Quando a humanidade chegou do seu planeta de origem, que é feito de mosaico vermelho em toda sua superfície, viu que precisava enfrentar e dominar o que chamou de natureza. Tudo o que contrariava a humanidade era a natureza. Por isso a primeira providência foi transformar o mato em deserto, que tem bastante areia para as edificações e para cerâmicas lisas onde os pés pudessem pisar sem cravar espinhos. Além de providenciar árabes para animar os blockbusters na sua luta insana contra os infiéis e na guerra recorrente em que sempre acabam levando um pau dos gringos nas matinês.
Só que a natureza não se deixou dominar assim no más. Havia na época ancestral uma Ong poderosa, decidida a proteger micos leões dourados, golfinhos e tartarugas. O resto podia matar. E foi assim que despareceram todos os bichos existentes, fazendo com que a palavra Animais fosse seguida imediatamente pela classificação de Em Extinção. Sobrou apenas o projeto Tamar, o Circo Garcia e a série Fliper. Assim ficaram garantidos os sinais mais evidentes da natureza, mesmo que se reconheça a origem extra-terrestre dos golfinhos, bichos aquáticos que batem palminhas e orientam cardumes para o massacre. Mas como ficou evidente o grande crime cometido contra a Terra, o negócio foi substituir a natureza por outra coisa, que vamos elencar a seguir.
Natureza é Lula deixando a peteca cair, é sofá velho sendo carregado pelo esgoto, é buraco na estrada a três por quatro, é morro despencado na estrada obsoleta, caminhão cheio de troncos de árvores levantando poeira no deserto. Também pode ser entendido como coração na véspera do enfarte, parto com dor, sexo pago, trilha chic em parque sustentado por dinheiro público alemão, rapel em cascata véu de noiva. É uma invenção humana, portanto vinda das estrelas,nada a ver com leõzinhos se pegando na savana sob as lentes dos documentários milionários.
Tudo faz parte da natureza: a eternidade da Xuxa, o show de Natal do Roberto, o domingão do Faustão, o narigão do Luciano Huck, a risota da Ana Maria Braga, a respiração suspensa dos editorialistas da TV, o Oscar Niemeyer construindo monstrengo de concreto numa cidade montanhosa histórica italiana do século V e sendo chamado de gênio pela apresentadora derretida em babações fanhas.
O que não faz parte da natureza é esse troço sem sentido que é uma árvore, um cacho de cinamomo, um pé de mamão selvagem, uma floresta de palmeiras no Pantanal. Nada tem a ver com a natureza o fato de peixe pular para dentro do barco, arco-íris nas cataratas, lua sobre o mar, água brotando da fonte, fruto colhido com a mão, semente sem bactéria embutida. Tudo isso faz parte de uma grande calúnia, pois a soja transgênica existe desde sempre e foi criada junto com a extração do fosfato no paraíso ambiental pela multinacional bandida.
Perde-se tempo confundindo conceitos. Ninguém quer voltar para o mato porque tem espinho, barro e mosquito. Todo montanhista sonha em passear em Paris. Piso de azulejo é a essência do conforto que trouxemos de estrelas distantes, já que aportamos por aqui por castigo. Ter que matar aborigenes, africanos, amarelos , bugres, mulatos e cafusos para poder morar em palácio superfaturado deu trabalho. De pena e para aplacar a ira dos ambientalistas, foram construídos jardins suspensos em algumas mansões.
Nada melhor do que lutar pela preservação nas dunas do Saara. É emocionante fechar os punhos pedindo a proteção das nascentes enquanto discutimos a distribuição dos royalties do pré-sal.
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