12 de julho de 2008

CARTA DOS BOCA-ABERTA


Há uma carta aberta contra o ministro do Supremo que libertou o banqueiro Daniel Dantas. O texto começa cada parágrafo dizendo que o regime democrático foi atingido pela decisão. Não foi, não. Quem foi atingida foi essa ilusão de que vivemos num regime democrático. Vivemos numa ditadura, tanto é que um cara que é pego pagando propina de um milhão de dólares sai solto depois de um processo cuidadoso de 175 páginas comandado por um juiz federal.

Aí o Lula, que viaja para escapar do batente, diz que a Polícia Federal está incomodando quem sai da linha. Não seja bôbo. A PF prende por duas horas, dois dias, mas não prende mesmo, já que o sistema que nos governa, a ditadura, solta quem quer, mantém preso quem quer e manda matar quem bem entender. É assim que funcionam as ditaduras e a que vivemos hoje não é diferente.

Aí tem uma falcatrua de 800 mil reais por mês na subprefeitura do Brás, em São Paulo, troco arrecadado entre as pessoas excluídas da economia formal e que acabam caindo na armadilha do sistema ditatorial para sobreviver. Não tem licença para tabalhar? Então paga por baixo do pano. Já estouraram uma merda dessas há anos e o troço continua o mesmo. Por que não muda? Porque vivemos na ditadura, não muda mesmo. Só mudaria se o sistema fosse derrotado.

Escutem o sujeito que chefia a corrupção do Brás. O cara pontifica, ameaça, canta de galo e ainda é flagrado de tarde comendo prostituta, o que é a cara do poder que nos governa (lembram das putas que seguravam as notas de cem reais nos dentes naquele escândalo de Brasília?). É assim a postura de impunidade da canalha que manda em tudo que é canto. Contra esse tipo de gente você faz o quê? Escreve uma carta aberta? Não sejamos boca-aberta.

Não devemos jogar pombas para o alto exigindo paz, nem publicar cartas abertas sobre a violência que mata todo mundo e ainda limpa o sangue nos cabelos das vítimas. Não vamos fazer cara de indignação e ficar de dedinho em riste. Tudo isso é conversa para boi dormir. Para peitar a ditatura, a primeira coisa a fazer é se convencer de que não vivemos numa democracia. Isso eliminaria 90 por cento das declarações feitas no tom de “mas que democracia é esta”? O segundo passo é detectar como a ditadura funciona, por meio da violência, do convencimento, da corrupção, não só nos altos escalões, mas na esquina, na rua, dentro de você.

Os outros passos, só quando houver uma grande coletividade dando os primeiros. Se milhões de pessoas se convencerem que ninguém derrotou a ditadura, que ela continua impune, triunfante, que é manipulada de fora do país, como se vivêssemos numa gigantesca operação Brother Sam, aquela de 64, então teremos condições básicas para reverter o quadro. Na hora em que os idiotas e sacanas de sempre invocarem o jogo democrático para justificar as merdas que estão aí, e pouca gente acreditar, então existirá realmente oposição. E oposição não faz apenas barulho. Oposição bota para quebrar.

Oponha-se. Abaixo a ditadura e fora o imperialismo.

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