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13 de agosto de 2005
URUGUAIANA DÁ A RECEITA
Como sair da atual sinuca de bico? Vejo numa notícia do Diário da Fronteira, de Uruguaiana, a receita para solucionar o impasse. Transcrita pelo Portaluruguaiana (link ao lado), a história mostra como podemos encontrar, a partir do que temos à mão, um canal para sair do sufoco. Não é a velha fórmula de fazer do limão uma limonada (os ingredientes continuam intactos, sob uma nova forma). Mas sim a de utilizar de maneira diferente os instrumentos que nos cercam. Ou seja: no lugar de ver tudo sob a mesma ótica, e de agir de maneira repetitiva (repetindo assim os erros), instaurar um processo diferente, redirecionar o rumo, transfigurar, alcançar uma nova ordem. Tudo isso é sugerido pelo uso não ortodoxo de uma ferramenta comum, a boa e velha "bomba" de chimarrão. Todo mundo sabe do que se trata: um canudo de metal retorcido, que tem o bocal numa extremidade e um coador fechado na outra. Pois esse utensílio serviu para o salvamento de uma menina de sete anos, que estava ficando roxa por falta de ar. Foi só usar o coador para afastar a língua que impedia a respiração e soprar pelo bocal o ar que faltava. Vamos seguir a história pela versão do jornal local:
"Profissionais do PSF Rural salvaram a vida de uma criança na Barragem Sanchuri, utilizando uma bomba de chimarrão. Uma das equipes do Programa de Saúde da Família - PSF esteve visitando as comunidades de João Arregui e da Barragem Sanchuri, onde realizaram atendimento médico, odontológico e jurídico. A visita que foi acompanhada da presença do Prefeito Municipal Sanchotene Felice, serviu para que os profissionais avaliassem a atual situação da saúde na localidade. Porém o fato que marcou a visita do grupo, se refere ao socorro improvisado e indispensável que os profissionais precisaram fazer.
Conforme relatado pelo secretário de saúde José Maria Argemi, a equipe que contava com o trabalho dos médicos Jorge Schiffner, José Tramunt e Carla Tourem Argemi, passou por um momento de tensão e agonia. Uma mãe chegou ao local de atendimento com a filha desfalecida nos braços, em conseqüência de uma crise após ao almoço. A equipe médica, que prestou os primeiros socorros no local, não conseguiu localizar a unidade móvel da Barragem, tendo que transportar a menina, no carro de uma família da comunidade. Conforme os médicos, frente ao Restaurante da Barragem, a criança faz vômitos, obstrução respiratória, cianose e parada cardíaca. Retirada do carro, é colocada sobre uma mesa do restaurante, recebendo massagem cardíaca e ventilação artificial. Para a ventilação da paciente, foi usada uma bomba de chimarrão, onde a forma curva do ralo da bomba prendendo a língua, serviu para evitar que a mesma obstaculizasse a entrada posterior das vias respiratórias, e o tubo da bomba usado para insuflação de ar e expandir seus pulmões com sopros da boca do médico. Suprimida a falta de oxigenação e restabelecido os batimentos do coração, a criança perde a cor roxa e seus pequeninos lábios e unhas retomam a cor rosada.
Controlada a situação, a menina foi levada para a Santa Casa de Caridade, onde foi atendida pelos médicos Telson Morsh, Raul Vals e Heleno Araújo. A falta de oxigênio em função do improviso imediato não deixou seqüelas neurológicas e a Bomba de Chimarrão é agora integrada aos anais dos atendimentos médicos - nas improvisadas armas em defesa da vida. A criança continua internada na Pediatria da Santa Casa, mas em situação estável e de evolução favorável, pelos boletins médicos."(Jornal Diário da Fronteira)
INSPIRAÇÃO - O episódio nos inspira. Diante de um estado de coma, fou usada a criatividade a partir de algo corriqueiro. A situação política nefasta que nos assombra pede um insight parecido. Será que vamos deixar o paciente morrer e choramingar no velório, como fazem agora petistas históricos, que não cansam de chorar diante das evidências? Insistir em velhas fórmulas - arrogância, desqualificação dos adversários, irresponsabilidade política? Uma das primeiras providências (além das que estão sendo tomadas pela Justiça, a Polícia e as CPIs) é resgatar o respeito ao trabalhismo, que, para variar, já anda de novo na boca dos cachorros. É a vez do trabalhismo, não para ser usado pelos fisiologistas que tomaram a sigla histórica, o PTB, de assalto. Não para reforçar a tese de direita, de que a crise atual foi provocado pelos que queriam uma república sindicalista no Brasil (o velho fantasma que serviu para derrubar Jango, ressuscitado hoje no artigo de Miguel Reale no Estadão). Nem para servir de apoio aos que se dizem desencantados com o PT (aí é que mora o perigo, pois para onde vai o presidente que quer sair do partido que fundou?). Mas sim para reforçar a tese do Brasil Soberano, insuflar ar no pulmão entupido da nação.
MIGUEL ARRAES, PRESENTE - O trabalhismo está ancorado nas leis que promovem a harmonia social, a soberania nacional e as reformas de base que ainda estão para ser feitas. A fusão histórica com o socialismo, nos anos 50, serve ainda para hoje. É preciso resgatar o sentido histórico da democracia brasileira, interrompido em 1964. Vemos hoje do que são feitas as pessoas que se diziam defensoras do povo. Nasceram e se criaram com a pata sobre o país construído arduamente de 1930 a 1964. Hoje pedem desculpas. Desculpa aí, foi mal, hem. Dêem licença. No lugar de chorar, lembrem dos nossos heróis, enterrados pelo povo enquanto as hienas gargalhavam. Darcy Ribeiro, presente. Leonel Brizola, presente. Getúlio Vargas, presente. E Miguel Arraes (que não era trabalhista, mas também um brasileiro com a máxima grandeza, que deu a vida pela nação, e ficou imobilizado pela falsa democracia que nos governa) presente, agora e sempre.
RETORNO - Meu primeiro diretor de redação, Walter Galvani, me envia uma mensagem generosa: "Olá amigo Nei. Obrigado pela inteligência, pela qualidade e pelo acerto da tua opinião de hoje: Sinuca de bico. O meu orgulho de antigo chefe dos estagiários, mesmo aqueles que, graças a Deus, desviaram-se, tomaram outros rumos e foram ser felizes pelo mundo afora...Um abraço." Galvani acaba de lançar seu livro de crônicas, O vôo da palavra, que certamente irá aportar aqui no ermo do Capivari o quanto antes.
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